A EMPREITADA QUE DEUS ME DEU
A EMPEITADA QUE DEUS ME DEU
Certa vez numa fazenda onde morei
Deus me deu uma empreitada
De uma forma queu eu jamais imaginei
Pela manhã eu começava minha jornada
Indo tratar dos porcos no chiqueiro
Naquela minha labuta certo dia
Dirigi ao paiol aonde sempre ia primeiro
Apanhei o milho e aos poços fui levar
Não acreditei naquilo que acontecia
A porteira não estava arrobada
Não achei nenhuma explicação
Quando Deus precisa da gente
Para socorrer algum irmão
Usa seu método inteligente
Na incumbência de uma missão
Surpreso teve um susto danado
Meu chiqueiro tinha sequer um leitão
Logo imaginei ter sido roubado
Voltei ao paiol devolvi a ração
Fui ao curral com os bezerros berrando
Enquanto o leite era ordenhado
Um a um os porcos foram voltando
Não sei quem os levou pra mim
Só faltou um leitão recém castrado
Escolhido para aquele devido fim
Levar-me ao casebre de um velho desolado
Num esburacado rancho de capim
Local onde eu jamais havia pisado
Gritei... Oh de casa tem alguém ai!
- Pode entrar quem tiver chamano
Vem aqui num dô conta de levantá
Quem tivé ai qui vai se achegano
Adoentado e enfraquecido estava Lá
Um espectro de gente com seus oitenta anos
Sua cama um giráu dava dó a gente ver
O colchão era trapos de panos
Fogão apagado sem água pra se beber
Deus me mandou naquele lugar
Pra socorrer aquele pobre ancião
Arrastando sua voz ele começou a contar
-To duente há duas sumana trabaio não
Tenho nada nem dinhero mode alimentá
-E seus parentes onde estão
-Fia muié tudo n’ua pobreza danada
Num tem jeito de Judá ieu não
Vivi longe na peleja cas sua fiarada
La na trabanda do véio Chico
Naqués fazenda longe padaná
Impregada daquese povo rico
Numanda nutiça num vem cá
E anssim nem sabe cumu ieu fico
-, Ocê num veio aqui atoa qui ta fazeno
-Estou à procura de um porco fujão
-Intonse deve de cê o qui ieu vi fuçano
Buscano água ieu vi no corgo um leitão
-Ha dias que eu o estava procurando
Mas deixou de ser a prioridade do momento
O importante era socorrer aquele irmão
-Fique tranqüilo vou lhe trazer alimento
-Num dô conta de cumê percisa não
-Vou trazer algum medicamento
-Intonse vô rezá mode acha o seu leitão
Ele vorta aminhã na berada do chiquero
Tem bicho na capadura tumem percisa curá
Fui a minha casa a procura de remédio caseiro
Voltei levando um pouco de leite e chá
O velho que estava quase morrendo
Em verdade só precisava se alimentar
Após dois dias já não estava mais tremendo
Mandou a tristeza embora e começou a se gabar
-E o leitão qui ieu mandei vorta pu chiquero
-Voltou sim está curado... Ele foi só um mensageiro
-Ieu num tô intendeno cocê da falano
-Não tem problema se entende ou não
Deus tem seus métodos e traça seu plano
Mas o senhor foi salvo graças aquele leitão
-Cumé cum purquim pode sarvá ieu
Tá é cum bestage zombano dieu sô
-Absolutamente, mas foi o que ocorreu
Através do porquinho encontrei o senhor
São os desígnios de Deus nosso pai e salvador!