O CAIPIRA E O TÉCNICO EM INFORMÁTICA
Boa tarde seu moço, da-me uma informação
Por favor, para onde vai esta estrada?
-Oia sô dotô a istrada num vai lugá nium não
Desdo do dia qui ieu nasci ela tai parada
Qui vai o povo, qui infia a cara pai afora
-Olha seu caipira você ta gozando minha cara
Entrei no caminho errado como farei agora
-OI dotô intrô foi nua camisa de sete vara
-Pra onde eu devo ir seu jeca indique-me a direção
-Ieu vô sabê se num cunheço voismeçê
Mai su dotô vai nesse rumo as onça acha bão
-O que está dizendo vão achar bom por que
O mato aí é pirigoso dotô tem onça e inté lião
Mió memo é o dotô incostá tomove e decê
Meu rancho é pobre mai dá mode ti gazaiá
Siguininfrente nem quero pensá quivai ti cuntecê
A meno qui contece um milagre mode ti sarvá
Incrédulo Adolfo só acreditava na ciência
-Milagre não existe seu caipira imbecil
Estou acostumado com conforto e eficiência
Vou me hospedar neste seu misero covil
-Intonse se o dotô acha qui ta cu rei na barriga
Custumado só cum coisa das mió e vevi no luxo
Segue logo seu caminho num pricisa de intriga
Cê ta memo gordim bão mode bicho inchê o bucho
-Vai me deixar aqui a ver navios sem me orientar
Seu caipira imbecil não seja tão ignorante
Tu bobão um jeca que não sabe o que diz
Desafiar-me, eu, um técnico importante
Matuto sem istrução sabe nem onde aponta o nariz
Devias me respeitar sou um homem letrado
Fabrico rádio computador e televisão
Cursei faculdade no exterior sou diplomado
Tudo isso e muito mais e tu é um jeca do sertão
-Mode pra que ta pidino informação socê é bem informado
Intonse dotô segue ifrente vai dizê isso pas fera
Vamo vê o qui contece se ez respeita sua sabiduria
E se u qui o caipira aqui ta falano num é divera
Vai cê do giitim do home qui passô isturdia
Falei mode druni e sai notrodia dimanhacedo
Chamô ieu de sertanejo caipira e jeca guinorante
Dizeno quera custumado qui num tinha medo
Já tinha mansado onça lobo e inté rinoceronte
As dispois viero os famiriá caçano nutiça sua
Mimpidiro mode ajudá e percurá o valentão
Treis légua meia num atolero achemo sua pirua
Nua batida mata adentro o sinar de arrastão
Pu toda banda rasto de onça pintada
Inrredó do carro sinar de luta no barro
Sangue pu toda banda e resto de ropa rasgada
Ma Del memo nem sinar só sobrô o carro
Malgradicido ieu ofirici mode ajudá pu brigação
Quero só vê si agora qui cumeça noitecê
Bicho que sabê qui ta cumeno fabricadô de parêio
-Olha como é mesmo seu nome nobre cidadão
-O nome dieu é oraço um pobre danado de feio
Mai tem muita vergonha na cara i amô no coração
E quando apanha dum lado nas oreia
Vira dotrabanda mode toma Oto bufetão
-Mil perdões meu caro amigo Orácio me enganei
Estava perdido sem rumo e agi sem pensar
Cai na realidade e compreendi que nada sei
Grande lição de vida acabou de me passar
Às vezes é preciso descer do pedestal
E tirar a venda dos olhos para não errar
Fugindo da realidade sendo tão radical
-Discurpa dotô ma ieu nun indindi nadica cocê falô!