DEBRUÇADO NO TEMPO
Como é gostoso caminhar
Pela manhã, antes de nascer sol
Tudo calmo parece doce respirar
A cor de maçã desenhada no arrebol
Barrando ao longe o novo dia
Alem da linha do horizonte
Mergulhando-me em utopia
Num devaneio bem distante!
Aqueles bons tempos de outrora
Quando nem um rádio existia
Era Luz de lamparina iluminando
As cabanas içando de sua chaminé
Em riste a branca fumaça se espalhando
Atualmente cabana virou chalé
Fogão de lenha nem mais existe
As lamparinas foram substituídas
A paisagem não é tão triste!
Mas nada de fumaça branca
Tampouco chaminé eu vejo agora
São lâmpadas desenhadas coloridas
Lustres e abajur tão belos como a aurora
Geladeira no lugar de pote gás no fogão
O caipira mudando seu jeito de prosear
Comprando computador carro e televisão
Neste ínterim o jeito foi respirar
Com toda calma, deitar meu olhar na paisagem
Apertei meus passos abri a janela da alma
Deixei o tempo me levar mergulhei noutra viajem
Pra onde na juventude eu ia plantar
Carpir... E meus sonhos construir
Cultivei ilusões vaidade e fantasias
Aventuras esperança colhendo saudade
Fuiii... Com a aurora se processando
Trazendo-me lembranças com o novo dia
Seus rabiscos desenhando
Andarilho numa distante utopia
Eu navegava devaneando
Sem rumo nem direção
Notei que algo não era como antes
O que mudou? Questionei meu coração!
Vi o sol raiar como uma laranja madura
O relógio mancando seis horas
Emocionado a imaginar naquela vida dura
Em qual situação estarei eu agora
Entre os casebres com suas chaminés
Tombando a terra de arado de boi?
De relógio não poderia ser!
Era o sol marcando hora e o tempo a correr!
Percebi então que tudo passou
A brancura de fumaça das chaminés
De os meus cabelos se apossou
Minhas pernas e até os meus pés
Já clamando por acessibilidade
Apenas o que em mim perdurou
E eu abracei com amor de verdade
Só experiência e dignidade me restou!