OS DOIS LADOS DE UM CAIPIRA

Sô um caipira de ingenho

Toquei boi fui tachero e muedô

Trabaiei cum disipenho

Nesse ofiço fui dotô

Inhantes de rompê a orora

Iieu já tava no batente

Qui sodade agora ieu tenho

Do chero da garapa quente

Do rangido do ingenho

Naquel tempo de otrora

Calambiano sonolento padaná

No iscurão da madrugada

Andano inroda sem Pará

Moveno sua armanjarra

Mode as cana isbagaçá

Muita cana no tabulero

Pra cuncrui a mueção

Melado ispaino o chero

Era o sinar apuração

Apertano o tachero

Quando o sor no horizonte

Mostrava cu dia tava chegano

A passarada dicia dos montes

A istrela darva tumem sumia

Mostrano nois o raiá do dia

Garapa do pé da cana

Ieu gostava de bebê

Meu corpo pidino cama

Veno o dia manhecê

Inda restava muita cana pamuê

Anssim foi minha infância

Fabricano as rapaduras

Naquel tempo deu criança

Infrentano a vida dura

Cum amor e isperança

Si era noite de luá

Tudu era tão bunito

Ieu ali a contemprá

As maravias do infinito

Naquele ispaço sem iguá

Ieu num cansava de zoiá

As nuves brancas La no céu

Andano pralá pracá

Rolando sem rumo nos léu

Mode à noite imbelezá

In noite de iscuridão

Cu azur tudu istrelado

Ieu tumem achava bão

Aquilo tudo foi criado

E pur Deus abençoado

Agradeço-o nosso criadô

Pur tudo qui deu pagente

Atomove radiola cumputadô

Essa trafincança itiligente

Qui ozome se inventô

Foi memo de pé no chão

Quesse caipira caminhô

Agora dispois dessa evolução

Tem tomove celulá cumputadô

Inté de avião esse jeca avuô

Lá punrriba das nuve cagente Foi

Vortei no tempo ponhei a me alembrá

Do cavalo carroça e carro de boi

Nas coisa da roça mode ieu andá

Andà de vião é a coisa mió há

Ieu esse jeca danado de bobão

Nas artura inrriba daquel nuvaréu

Iguar aqués bandera de argudão

Achano qui tava pirtim da porta do Céu

Pensano cumé qui vô vortá pu chão.

Resta-me render graças ao nosso bom Deus

Pelo dom da vida os bens que me foi dado

Por tudo de proveitoso que ele me concedeu

Pela oportunidade vivenciando os dois lados

O antes e depois deste mundo transformado

Esta juventude da atualidade

Que tem tudo a sua disposição

Não valorizam o esforço dos pais

Insaciáveis com tamanha aptidão

Está sempre a exigir mais e mais

Não comeram arroz socado no pilão

Não calçaram alpercatas de couro cru

Não tiveram de catar ossos pra fazer sabão

Não calejaram as mãos no cabo do guatambu

Nem suaram pra produzir seu pão!

Obrigado papai do céu pelas maravilhas de sua criação!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 06/09/2012
Reeditado em 06/09/2012
Código do texto: T3868552
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