O CASAR DE VÉIOS MINEIRO E O REMÉDIO DO RAIZEIRO.
Estou aqui mais uma vez,
Pra trazer a meus leitores,
Mais um cordel divertido,
Pras senhoras e senhores,
Trazendo em forma versada,
Uma anedota engraçada,
De um casar e seus amores.
Lá pras banda de Mantena,
Um município mineiro,
Morava um casar de véios,
Sertanejos verdadeiros,
A muié chamava-se Elvira,
O home era o seu Josias,
Dois mantenenses Brejeiros.
O veio de manhã cedo,
Ainda de madrugada,
O seu costumeiro oficio,
Desleitar a vacarada,
E a veia bem cedinho,
Coava um café quentinho,
Naquela hora marcada.
O tal veio um certo dia,
Dessa vez perdeu a hora,
E quando ele acordou,
O sol já tava de fora,
E assim resolveu ficar,
E da cama aproveitar,
Vou levantar não agora.
A veia disse, mas home,
Tu num vai se alevantar,
Oi que já são oito horas,
Vamo a vida aproveitar,
Eu fiz um café quentinho,
E pro cê fritei uns bolinhos,
Venha aqui se alimentar.
Uai minha veia me diga,
Por que ocê ta apressada,
Eu já perdi memo as horas,
O sol ta arto na estrada,
Lembro-me de quando moço,
Que eu nim fazia esforço,
Pra resolver a parada.
A proveitar memo a vida,
Só quando era sorteiro,
Andava todo galante,
Parecendo um fazendero,
Mas hoje pra que correr,
Eu nem tenho mais prazer,
De ciscar no meu terreiro.
A veia disse meu veio,
Num fique desanimado,
Pois nesse séco moderno,
O mundo está mudado,
Tem remédio para tudo,
Inté para os moribundos,
Tem concerto pro finado.
O veio lhe respondeu,
Minha veia não se iluda,
Pois na idade que estô,
Não há santo que acuda,
Parece inté brincadeira,
Mas descambei a ladeira,
Nada mais anima o Juda.
Andando lá pela rua,
A veia se deparou,
Com um tal de raizeiro,
Que a ela impressionou,
Era tanta gente comprando,
As raízes desse fulano,
E ela também embarcou.
A veia, mas que depressa,
Um bom bocado comprou,
Pôs dentro de uma sacola,
E cinqüenta reais pagou,
Saiu meditando sorrindo,
Meu véio vai ficar tinindo,
E vai me encher de amor.
Sem saber do que tratava,
Pôs o veio a reclamar,
Já se foi minha alegria,
E a vontade de brincar,
Olha se tivesse um jeito,
De concertar meu defeito,
Um remédio eu ia tomar.
Nesse momento a veia,
Entrou em seus aposentos,
E apresentou um pacote,
Com algumas raízes dentro,
E disse óia comprei pro cê,
Pra essa tristeza esquecer,
E sair desse tormento.
Mas minha veia que é isso,
Que ocê está fazendo,
Ocê contou meu pobrema,
Praquele véio moreno,
Deixou ele te enrolar,
Dizendo que vai ressuscitar,
Um troço que ta morrendo.
Disse meu véio tenha fé,
Que tudo vai se resorver,
Pois os reméios naturá,
São repletos de poder,
É só tomar dereitinho,
Que o bacamacho todinho,
Vai vortar te dá prazer.
Então o véio mineiro,
Resolveu experimentar,
As tais raízes que a veia,
Atreveu-se em comprar,
Pegou toda a raizada,
Fez aquela xaropada,
E preparou-se pra tomar.
Tinha raiz de catuaba,
Jurubeba e Cipó Cravo,
E um tal Nó de cachorro,
Geassem e Coito Bravo,
Pau cheiroso e Jatobá,
Marapuama e Guaraná,
Levante e cipó oitavo.
Canela e Sucupira,
E uma tal carapanaúba,
Um tal Angico do Brejo,
E espinho de Tatajuba,
Tinha Um tal pau de Quati,
Cipó escada e Caroarí,
Casca de Ipê e cachinguba.
Urtigão e preciosa,
Pau ferro e Angelim,
Mucunã e quina-quina,
Uxizeira e gergelim,
Pau barbado e canelão,
Tinha até barba Timão,
Eucalipto e Alecrim.
Eram tantas qualidades,
Que o véio nem conhecia,
Mas ficou todo faceiro,
Todo cheio de euforia,
E disse se isso funcionar,
A coisa vai esquentar,
Inté ao clarear do dia.
Pôs tudo numa panela,
Deixando assim cozinhar,
Toda aquela tranqueirada,
Não hesitou em tomar,
No qual foi sua surpresa,
Ao por as cartas na mesa,
Sentiu a coisa mudar.
Parecendo uma lavanca,
O mastro logo empinou,
E aquele véio mineiro,
Todo assanhado ficou,
Então chamou sua veia,
Dizendo venha cá tetéia,
O seu chá funcionou.
Nessa hora a pobre veia,
Se enfeitou toda cheirosa,
Dizendo com seus botões,
ETA raízinhas poderosas,
É hoje que o atrasado,
Vai ser do véio cobrado,
Numa noitada Gloriosa.
Porem durou Pouco tempo,
Aquela grande euforia,
O véio tomou o tal chá,
Com a barriga vazia,
E isso atacou a fraqueza,
Que o que devia ser proeza,
Deixou o véio numa fria.
Já no meio da empreitada,
Foi que a coisa piorou,
Toda aquela xaropada,
No estômago misturou,
E o pobre véio coitado,
Saiu correndo apressado,
No banheiro se trancou.
Uma tremenda diarréia,
Causou a tal misturada,
Que o véio sentou no trono,
E não se levantou para nada,
Foi tanto gemido e rojão,
Que parecia um trovão,
Nas noites de invernada.
E foi assim toda a noite,
Até amanhecer o dia,
Pobre véio enfraquecido,
Com a maior Desinteria,
Véio e veia desiludido,
Lembravam do ocorrido,
Dessa tremenda agonia.
E lá se vai novamente,
A pobre veia a correr,
Agora a trás de remédios,
Pra seu véio socorrer,
Dizendo Nossa Senhora,
O que é que eu faço agora,
Pra meu véio não morrer.
Trouxe então um gorosam,
E deu pro véio tomar,
O coitado já sem forças,
Nem se atreveu reclamar,
Tomou toda a gororoba,
Se torcendo feito cobra,
Pra barriga melhorar.
Assim se foi o seu sonho,
De brinca de quando moço,
E das tais de raizadas,
Que lhe fez comer insosso,
Vai ficar só na lembrança,
De uma noite de lambança,
De canseiras e alvoroço.
Assim o casal de velhos,
Voltaram à realidade,
Deixaram de inventar moda,
E encararam a verdade,
E daquele tal de raizeiro,
E o fraudulento tempero,
Se foi de vossa vaidade.
Esse é um simples relato,
Contado não sei por quem,
Ser prudente e cauteloso,
Nunca fez mal a ninguém,
Assim diz o antigo ditado,
Tudo que começa errado,
Nunca pode acabar bem.
Cosme B Araujo.
26/08/2012.