O QUEIJO A RAPADURA E O PADRE.

Lá pelos tempos antigos,

Andavam pelos povoados,

Passando de casa em casa,

Quase sempre acompanhado,

Um padre que comandava,

E um sacristão acompanhava,

Como o homem do recado.

Essa tal de frei Tomás,

Era um pouco exagerado,

Quando o assunto era comida,

Não se fazia de arrogado,

Fosse a almoço ou jantar,

Comia até se empanturrar,

Sem medo do resultado.

Caminhava o dia inteiro,

Visitando as famílias,

Almoçando pelas casas,

Que sempre a eles acolhia,

O padre era bem tratado,

E que estava do seu lado,

Sempre do melhor comia.

Pois bem eu vou lhes contar

Se aconteceu não se sabe,

Essa história engraçada,

Cheia de peculiaridades,

Onde um sujeito estudado,

Foi inteiramente engabelado,

Por um matuto de verdade.

Pois é existia um padre,

Por nome de Frei Tomás,

Que fazia suas andanças,

Como hoje ninguém faz,

Dizem que foi no nordeste,

Pelos sertões e agreste,

Ele seus dois capataz.

Acompanhava esse padre,

Um caboclo e um sacristão,

E os três andavam juntos,

Nas estradas do sertão,

No lugar aonde chegava,

Muita gente se ajuntava,

Para ouvir o seu sermão.

Era costume do povo,

Dar do bom e do melhor,

A todo padre que vinha,

Isso acompanhado ou só,

Comia na estalagem,

E ganhava pra viagem,

Do queijo ao pão de ló.

Frei Tomás um certo dia,

Chegando num povoado,

Foi muito bem recebido,

Sendo logo convidado,

Pra fazer o seu sermão,

Na fazenda Maranhão,

Bem fora do planejado.

Padre Tomás aceitou,

Aquele nobre pedido,

Feito pelo fazendeiro,

Um seu velho conhecido,

Ai rumou pra fazenda,

Mas já pensando na prenda,

Que lhes tinha oferecido.

Chegando ao dito local,

Já tava tudo arrumado,

Muitas crianças brincando,

No terreiro iluminado,

E as velhas rezadeiras,

Foram mesmo as primeiras,

Com seus terços pendurados.

Foi bonito o programa,

E bem longo o sermão,

Realizado ao ar livre,

Em um grande terreirão,

Foi tudo bem programado,

Teve crisme e batizado,

Naquela programação.

Assim o padre Tomás,

Após o fim do sermão,

Dispensou o pessoal,

Chamou o seu sacristão,

Disse-lhe meu camarada,

To com uma fome lascada,

Não tem algo pra nós não?

Nessa hora o fazendeiro,

Veio ao padre chamar,

Dizendo padre Tomás,

Venha um lanche tomar,

O senhor está cansado,

Tome um lanche reforçado,

Pras forças revigorar.

E lá se foram os três,

Padre, caboclo e sacristão,

Entraram cozinha adentro,

Sem nenhuma objeção,

A mesa estava arrumada,

Com comidas variadas,

Aquela bela refeição.

Tinha bolo de mandioca,

E uma tal de brevidade,

Um beiju de macaxeira,

Tinha muita novidade,

Que aqueles convidados,

Por estarem esfomeados,

Fartaram-se de verdade.

Após os três ter lanchado,

Receberam de presente,

Um belo queijo curtido,

Cheiroso bem diferente,

E uma bela rapadura,

Quadrada de cor escura,

Feita bem recentemente.

O fazendeiro então disse,

Para comer na viagem,

Que é longa pra vocês,

Feita com muita coragem,

Esse alimento vai ajudar,

Ao caminho atravessar,

Até a próxima estalagem.

O padre cresceu o olho,

No brinde do fazendeiro,

Dizendo consigo mesmo,

É só meu esse tempero,

Vou comer isso sozinho,

Sacristão e caboclinho,

Irão só sentir o cheiro.

Então o padre forjicou,

Sugerir uma sobreposta,

Chamou os dois ajudantes,

E lhes lançou a proposta,

Dizendo vamos pernoitar,

Aquele que melhor sonhar,

É o vencedor da aposta.

A proposta era a seguinte,

Quando o dia amanhecer,

Cada um conta seu sonho,

Só isso é que vai valer,

E só aquele individuo,

Com o sonho mais bonito,

Pode o queijo comer.

Cientes do combinado,

Assim foram repousar,

Os ajudantes dormiram,

Cada um em seu lugar,

O padre adormeceu,

Dizendo o queijo é meu,

Tenho trunfos na hora gá.

Quando o dia amanheceu,

Logo antes de viajar,

O primeiro foi o padre,

Que o seu sonho foi contar,

Dizendo ter ido ao céu,

E junto com o anjo Gabriel,

Pôde por lá passear.

Disse ver as casa de ouro,

Cheio de felicidade,

Cada uma de uma pérola,

Transparente de verdade,

Ficando impressionado,

Como tudo é organizado,

Daquela linda cidade.

É muito lindo seu padre,

Esse sonho do senhor,

Disse então o sacristão,

E pro caboclo piscou,

Acho que o queijo é seu,

Pois eu sei o sonho meu,

É muito mais inferior.

Já sei que sou perdedor,

Assim mesmo vou contar,

Pois sonhei está subindo,

Aonde o senhor foi parar,

Em uma escada de anjos,

Rodeado de arcanjos,

Dentro do céu fui parar.

Foi quando lá pude ver,

Uma festa de manjar,

E o senhor que ali estava,

Convidou-me pra sentar,

Nós dois ali festejando,

Da terra nem se lembrando,

Nem pensei mais em voltar.

Chegou à vez do caboclo,

Contar o que tinha sonhado,

Porém olhando de banda,

Mas falou desconfiado,

Sem saber qual a reação,

Do tal padre e o sacristão,

Quando vissem o resultado.

Disse olha aqui seu padre,

Meu sonho é feio demais,

Olha é um sonho tão feio,

Que contar nem sou capaz,

O senhor pode inté imaginar,

O quê que eu ia sonhar,

Eu sendo humilde rapaz?

Disse o padre não se acanhe,

Mesmo que seja horroroso,

Pois precisamos saber,

Qual o sonho mais honroso,

Pois aquele que ganhar,

Será quem vai devorar,

Aquele queijo gostoso.

O caboclo então falou,

Já que tenho que contar,

Eu só espero seu padre,

O senhor não se zangar,

Logo quando me deitei,

Veja só o que sonhei,

Foi mesmo de admirar.

Eu sonhei que o seu padre,

E também o sacristão,

Tinha ido para o céu,

Subindo num turbilhão,

Dizendo tchau meu rapaz,

Aqui nós não voltamos mais,

Coma o queijo meu irmão.

Pensando ser pesadelo,

Mas que depressa acordei,

Levantei-me de mansinho,

E do queijo me apossei,

Ainda sinto inté a doçura,

O queijo e a rapadura,

Todinho os dois devorei.

Os dois ficaram abismados,

Fingindo não entender,

Como um cara analfabeto,

Pode eles dois vencer,

O padre e o sacristão,

Tomaram grande lição,

Até mesmo sem querer.

O mundo é do mais esperto,

Disse consigo o sacristão,

E o padre fechou a cara,

Mas não ensaiou reação,

E o caboclo analfabeto,

Mostrou-se o mais esperto,

Lá nas bandas do sertão.

Cosme B Araujo.

17/06/2012.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 20/06/2012
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