Sozinho no mundo

Deixei meus pais muito cedo

No mundo me aventurei

Só Deus sabe o que passei

Quase que morro de medo

Por lá vivi o degredo

Sem mãe, sem lar e sem nome

E pra não morrer de fome

Só Deus sabe o meu segredo.

A vida longe de casa

É dura, triste e cruel

É amarga feito fel

É uma rolinha sem asa

Tudo enquanto se atrasa

Quando bate a solidão

Dói fundo no coração

Que fere, machuca, arrasa.

Muitas vezes, escondido,

Chorei a dor da partida

Deixei minha mãe querida

Fiquei no mundo perdido

Lembrando meu pai querido

A mim me dando conselho

Hoje de frente ao espelho

Sofro, choro arrependido.

Por que, meu Deus, não fiquei

Na terra onde fui criado

Onde amei e fui amado

Que nasci e me criei?

Hoje já nem mesmo sei

O que é felicidade

Esta vida na cidade

Não foi a que eu sonhei.

Sozinho, desempregado,

Sem honra e respeito estou

O pão que o Diabo amassou

Quem dera me fosse dado!

Vivo triste, amargurado,

Sofrendo em terra de estranho

Meu Deus é este o meu ganho

Por deixar o meu Estado?

Os sonhos que eu sonhei

Hoje são só pesadelos

Me irrito, coço os cabelos

Pensando onde foi que errei

Perdoe-me, Deus, mas não sei

Onde está o meu pecado

Se estou sendo castigado

Diga, Deus, onde pequei?

Nem sei mais o que é comida

Vivo mendigando pão

Todo mundo me diz não

Diacho, que vida sofrida!

Nunca sonhei com esta vida

Mas é minha realidade

Meu Deus tenha piedade

Desta alma desvalida.

A barriga ainda dói

Do leite que não bebi

E o pão que não comi

O meu estômago remói

Minha honra se destrói

A cada passo na rua

Com esta verdade crua

Mi’a tristeza se constrói.

Deus, é pecado sonhar,

Ter fartura, ter riqueza?

Por que apenas tristeza

Insiste em me acompanhar?

Já chega de me humilhar

Já paguei o meu pecado

Tou sujo, fraco, arrasado

Preciso me levantar.

Sobre a marquise deitado

Em cima de um papelão

Sentindo o fedor do chão

Preto de sujo e mijado

Passei a noite acordado

Sentindo o cheiro da morte

E com um pouco de sorte

Eu não morri congelado.

Hoje não sei o que fazer

E nem sei pra onde ir

Sei que tenho que sair

O guarda veio me dizer

A minha vida é sofrer

Amigos não tenho mais

O bom já ficou pra trás

Agora é só padecer.

Contanto, lembro de Jó

Que sofreu sem ter pecado

Foi pelo Diabo tentado

Sua vida deu um nó

Nem que eu me resuma a pó

Em Jesus não perco a fé

Pois Cristo de Nazaré

Nunca deixa um filho só.

Poeta do Riacho
Enviado por Poeta do Riacho em 16/05/2012
Código do texto: T3671487