Os efeitos da cachaça... Autor: Damião Metamorfose.
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Passei trinta e cinco anos
Ou mais, enchendo essa taça
Tracei tudo que é tranqueira,
Que só quem bebe é quem traça.
E hoje vou descrever
“Os efeitos da cachaça”
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Este vicio é uma desgraça,
Que chega na adolescência.
Vai minando o organismo,
Roubando a inteligência.
Quem é forte fica fraco
Chegando até a demência!
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Sempre tive a consciência
Tranquila, quando eu bebia.
Pois nunca fui um alcoólatra
Dos que bebem todo dia.
Nem nunca troquei trabalho
Por farra em má companhia!
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Parava quando eu queria,
Sempre foi o meu bordão
E por ter parado escrevo
Falando da escravidão
Do famoso papudinho,
Cachaceiro ou beberrão...
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Entre um pedaço de pão
E uma dose de cachaça.
Entre um hotel cinco estrelas
E um reles banco de praça.
Quem bebe escolhe o segundo
E inda pergunta: é de graça?
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Alcoolismo quando o abraça
Tem cara de inocente.
Mas mata mais que as guerras
Rapidinho ou lentamente.
Não escolhe classe ou sexo
Ou qualquer raça de gente!
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Quem bebe fria ou quente...
Corre o risco desses danos...
Não demora e os efeitos
Afetam os sonhos e planos!
Quem diz: paro se quiser,
Já adentrou pelos canos!
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Quem bebe e perde os tutanos
Quando está sob o efeito
Da danada da cachaça
Pra curar só tem um jeito.
Que é não encher o caneco
E se dá por satisfeito!
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Beber não é um defeito...
O problema companheiro.
É aquele que bebe uma
Depois bebe o litro inteiro.
Não para e nem volta ao lar
Nem quando acaba o dinheiro!
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Roupa suja no banheiro,
Lixo aos montes no quintal.
Fogão com panelas sujas,
Açúcar junto com o sal...
Isso é a casa de quem bebe
Do nascer ao funeral!
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Quem bebe até passar mal
Dia santo ou feriado.
Trabalhador ou vadio
Ou só um desempregado.
Começa bebendo em pé
E acaba sempre deitado...
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Tem quem seja acostumado
A beber toda a semana.
Sete dias, sete noites,
Tendo ou não tendo a grana.
-Só vive em pé de balcão,
Mas seu nome é: pé de cana...
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Quando é um bebum sacana
Implora ao dono do bar.
Pra tomar a saideira
Faz tudo que Ele mandar.
Assim faz um viciado,
Sem ter mais com que pagar
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Mesmo quem foi exemplar
Muito cedo e sai de casa.
Quando não sai, não se muda,
Não ajuda e só atrasa.
Muitos não chegam aos quarenta
Já entope a cova rasa!
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Vive arrastando a asa,
Feito urubu com pantim.
Em casa falta de um tudo,
Mas para ele é assim...
Se não faltar a cachaça
Nunca vai ter tempo ruim!
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Um pedaço de “toicim”
Em um caibro pendurado.
Encima de uma panela
De feijão preto encruado.
Na casa de um cachaceiro
Tudo isso é encontrado!
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Na cama, um colchão rasgado,
Com inhaca de cachaça...
A geladeira vazia,
Roupa cheirando a fumaça.
Nenhuma moral em casa
E o nome sujo na praça!
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Parece um avião caça...
Roncando deitado ao chão.
Com o talo cheio de cana,
Com cerveja e alcatrão...
Não ta nem ai pra vida
E que se dane o patrão!
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Sabe mas jura que não
Sabe o mal que o álcool faz.
Por isso quem bebe pede
Para deixá-lo em paz.
E a sina de um beberrão
É andar sempre pra traz!
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Do amor sempre desfaz,
Mas tem uma paixão cega
Por um alguém invisível
Que Ele morre, mas nega.
Por isso é que cachaceiro
Só gosta de “musica brega”!
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Qualquer nome que o renega
Para ele é um elogio.
Fica alegre quando bebe
Igual cadela no cio.
E vive sempre melado
Mais melado que um pavio!
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Promessa é do seu feitio,
Mas nunca será comprida.
Quem disse: eu não bebo mais
Essa desgraça na vida...
É pena que essa frase...
Rapidinha é esquecida!
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Tanto faz se a dormida,
É na cama, grama ou lama...
Já não faz mais diferença
Nem a família que o ama.
Para o devoto da pinga
E discípulo da Bhrama!
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A primeira o bebum chama,
Pra não ficar estressado.
Segunda é pro mal estar,
Terceira é pro resfriado...
-Beber é sempre a desculpa,
Esteja quente ou gelado!
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Sem beber fica estressado
Quando bebe rir a toa.
Sendo quem paga uma dose
Ele abraça numa boa.
Mas no dia que não bebe
Empaca, treme e enjoa...
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Parece um barco sem proa
Com a boca faltando um dente.
Dá uns dez passos pra traz
Pra poder dar um pra frente.
Um currículo de safado
Numa cara de inocente!
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Quem bebe tem sempre em mente
Um motivo pra beber.
Seja em dia ensolarado,
Nublado ou se vai chover.
Depois da primeira dose,
Só Deus sabe o que vai ter!
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O bebum não quer comer?
Bom café com tapioca...
Prefere pinga da boa,
Tipo: pitu, ypioca...
Ou de fundo de quintal,
Com gosto de cana choca!
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O bebum quando se toca
Deixa a cachaça, a cerveja...
Se converte e é ungido
Vira crente em uma igreja.
Ou até mesmo um pastor...
Santo Deus que nos proteja!
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Que caia raio ou troveja
E o bebum vai ao bar.
Enfrenta qualquer o distúrbio
Da terra e vai se fartar.
Do que move a sua vida
Que é beber e godelar!
*
Beberrão vive a apanhar
Da branquinha com limão...
Quando ele não leva uns tapas,
Apanha levando um não.
De quem não vende fiado
Para pinguço enrolão!
*
Quem bebe por diversão
Do jeito que eu bebia.
Consegue escolher o bar,
A bebida, a companhia...
Mas quem não tem mais controle
Nem sabe o que é noite ou dia!
*
D-eixei, Deus salve esse dia
A-gradeço humildemente.
M-ais um Cordel foi escrito
I-mprovisado em repente.
A bebida é o personagem
O vicio que mata gente!
*
Fim.