A HORA DE DAR O TROCO (ELEITOR CONSCIENTE)

Já num compreendo o mundo

Sinto um desgosto profundo

Pela mi'a ignorança

Mas já me sinto perdido

Cum o coração partido

Cheio de disisperança.

Nós bem sabe que o sertão

In ano de inleição

É muito bem visitado

Aqui vem muitos Dotô

Que chama nóis de siô

Inté samo respeitado.

Mais dispois qui são inleito

Até chegar ôto preito

Todos ele fica ausente

E entra ano e sai ano

Nem Fulano nem Sicrano

Vem aqui oiá pra gente.

Aqui nóis fica largado

Que nem um bicho acuado

Por nóis sê provinciano

E eles lá no pudê

Cumprino cum seu devê

Ou seja: só inricano.

Sem ter a quem recorrê

Nóis fica num padecê

Só resta ter paciença

Sem saúde ou proteção

Fica à mercê de ladrão

E refém da violença.

E quando um dia a poliça

Prende um ladrão e a justiça

Manda os seus crime pagá

Logo vem um pistolão

Chei de direito e razão

Manda o bandido sortá.

Isso num é coisa boa

Cumé qui pode u’a pessoa

Inleita pelo povão

Sê assim tão negligente

Dá as costa pra sua gente

Pra defendê um ladrão?

Sempre trabaiei pesado

Tudo qui te’o foi suado

Cum isforço conquistei

E nunca fui de robá

Pois eu sempre quis andá

Di acordo cum a lei.

Quantas veiz, meu Deus, pequei

Pelas veiz qui desejei

A morte dos marginal

Quantas veiz eu me orguiei

De cabeça erguida andei

Por vivê sempre legal.

Mas aí vem o ladrão,

Pinta o sete, faiz o cão

Faiz o que li dá na têa

Quando é preso ele acha graça

Porque sabe qui num passa

Nem mea ora na cadêa.

Certa veiz eu quis chorá

Deu vontade di rasgá

Meu titlo de inleitô

Mais dispois pensano só

Achei qui é bem mió

Eu isperá o Dotô.

Deus iscreve in linha torta

O mundo dá muitas vorta

O tempo passa ligêro

E quando eu pensá qui não

O Dotô cum seu carrão

Vai riscá no meu terrêro.

Aí eu vô me vingá

Antes dele se assentá

Eu lhe digo: Cidadão,

Num dê sua palavra à toa

Pois eu num voto in pessoa

Que manda sortá ladrão.

Poeta do Riacho
Enviado por Poeta do Riacho em 18/04/2012
Reeditado em 18/04/2012
Código do texto: T3619438