SEM O LUAR O SERTANEJO CHORA
Mergulha o sol no horizonte
Cinge de esplendor a natureza
A lua em sua fase minguante
Perde o encanto e a beleza
A tarde vai rápido caindo
A escuridão liberta seu mito
E o róseo boreal vai sumindo
Empalidece a franja do infinito
A noite vai puxando seu manto
Por milhões de estrelas bordado
O curiango começa seu canto
Aqui ali e acolá no cerrado
De luto a terra se veste
A brisa vai carregando o perfume
Roubado da flora silvestre
Saem das tocas os vaga-lumes
Ouvem-se os murmúrios do rio
Chorando ao som da cascata
Assanham as aves com seus pios
A buscar seus ninhos na mata
O silencio e quietude se instala
O transe da terra é profundo
Os brejais seu bocejo exala
O fétido hálito do mundo
Levitando no cosmos a vagar
A terra flutua na sua imensidão
Como uma nau singrando o mar
Em meio às ondas da escuridão
Na sua rede o sertanejo chora
Ponteando seu velho violão
Perguntando por que o luar foi embora
Magoando o seu coração
Desafinado tira uma triste toada
Dos acordes de o seu instrumento
Perdido ele fica no meio do nada
Divagando com o seu pensamento
A contemplar o céu estrelado
Clamando pela ausência do luar
Tristonho ele adomece desconsolado
Pondo-se com a lua a sonhar!