Zé Siqueira. o lampião e o Ministério do Fogo

Alguns fatos históricos para melhor entender o cordel.

1- Lula era presidente e Dilma sua provável sucessora.

2- O mundo vivia sob os efeitos da crise mundial de 2008.

3- O arcebispo de Recife tinha excomungado os médicos que fizeram um aborto em uma menor que fora estuprada.

4- Havia sido divulgado o escândalo das horas extras do senado.

P.S. O cordel é meio longo mais o ritmo é bem gostoso de ler e bem humorado.

1

No dia em que Zé Siqueira

Conheceu um lampião

Foi a maior bagaceira

Que já se viu no Sertão

2

A peleja foi tão feia

Se não estou enganado

Não foi ninguém pra cadeia

Por falta de delegado

3

Muitos anos se passaram

Desse episódio tremendo

Mas os poucos que escaparam

Ainda hoje estão correndo

4

Como tudo começou

Foi difícil de apurar

Mas Miguezim me contou

O que ora vou narrar

5

Sentado numa cadeira

Depois de uma ressaca

Se encontrava Zé Siqueira

Amolando a sua faca

6

Maria chegou da feira

Com a língua quase à mão

Falando pra Zé Siqueira

Na maior empolgação

7

Na cidade tão falando

É grande a sensação

Que hoje estará chegando

O famoso lampião

8

Zé precisou ir à moita

Pra aliviar a barriga

Deixando Maria afoita

Fofocando com uma amiga

9

Zé Siqueira voltou brabo

E já disposto pra briga

Pois tinha limpado o rabo

Com uma folha de urtiga

10

E para a sua surpresa

E grande indignação

Em cima da sua mesa

Estava o tal do lampião

11

Deu de garra de um tição

Pra botar fogo no peste

Que é pra ver se o lampião

Passaria no seu teste

12

Não teve muito cuidado

Por causa da afobação

E quando ouviu um chiado

Já tinha queimado a mão

13

Largou a tocha arretado

Em cima do lampião

Soltou um urro danado

Engolindo um palavrão

14

Com o fogo na cozinha

Ele correu pro terreiro

Tropeçou numa galinha

Caiu dentro do chiqueiro

15

O fogo foi se alastrando

Para frente e para trás

Aquilo foi esquentando

Qual sauna de Satanás

16

No quarto mal foi chegando

E já queimou o colchão

As pulgas iam saltando

Como balas de canhão

17

Cada pulga que saltava

Formava nova fogueira

E a bichinha gritava

Eu vou lascar Zé Siqueira

18

Foi um baita fogaréu

Coitado de Zé Siqueira

Perdeu naquele escarcéu

Metade da cabeleira

19

Siqueira voltou correndo

Tentando salvar Maria

Já encontrou ela ardendo

Com água numa bacia

20

Sua roupa estava em trapos

Ela estava seminua

E com dois ou três sopapos

Levou-a pro meio da rua

21

Voltou correndo pra casa

Tentando salvar a sogra

Pisou num monte de brasa

E já se esqueceu da cobra

22

Voltou correndo pra rua

Porque nada se salvara

Encontrando a mulher nua

Pois sua roupa queimara

23

É duro ao que ele assiste

Tudo o que tinha perdera

Só não estava mais triste

Porque a sogra morrera

24

Quando a fumaça baixou

Soprou um redemoinho

E o fogo se alastrou

Pela casa do vizinho

25

Tanta gente que corria

De dentro daquela casa

Que o jardim parecia

Uma feira da CEASA

26

Saiu um guri cagado

Com a merda incandescente

Um cachorro chamuscado

E uma velhinha sem dente

27

A rua toda lotava

Era grande o alarido

A turba louca gritava

Siqueira tu tá fodido

28

Era tamanha a desgraça

Queimou loja e armazém

Duas barracas na praça

E quatro vagões de trem

29

Miguezim deu testemunho

Daquele dia azarão

Estava no mês de junho

Era Festa de São João

30

As barracas, no São João

Tinham fogos de artifício

Foi tão grande a explosão

Que destruiu o hospício

31

Foi tanto doido queimando

Que dava dó de olhar

Uns correndo outros voando

E o braseiro no ar

32

Era grande a amargura

Desgraça ninguém deseja

Destruiu a prefeitura

O colégio e a igreja

33

O fogo não teve pena

Quando chegou no bordel

Só escapou Filomena

Porque tava num motel

34

Na feira quando chegou

Foi a maior covardia

O que era morto queimou

O que era vivo corria

35

O fogo de Zé Siqueira

Estava mesmo infernal

Depois que queimou a feira

Adentrou no hospital

36

Uma maca na entrada

Foi o que queimou primeiro

Com uma mulher deitada

Esperando um enfermeiro

37

Tinha um atropelado

Na mesa de cirurgia

Que correu desesperado

Quando ouviu a gritaria

38

Um bebê recém-nascido

Que tava na incubadora

Quando ouviu o alarido

Voltou pro útero na hora

39

Um médico recém-formado

Careca, feio e gorducho

Abandonou um operado

Com uma pinça no bucho

40

Tinha um esfaqueado

Com uma faca na moleira

Que correu endiabrado

Procurando Zé Siqueira

41

Os doentes da UTI

Estavam todos em coma

O fogo chegou ali

Parecia Nero em Roma

42

O fogo descontrolado

Destruído o hospital

Entrou igual um machado

Pra dentro do matagal

43

O fogo queimou de fato

Aquela cidadezinha

E já corria no mato

Em direção à vizinha

44

Foi destruindo roçado

Sem respeitar nem aceiro

Viu-se até burro montado

Na garupa do vaqueiro

45

Quem não achou um buraco

Pra poder se enfiar

Ficou igual a tabaco

No cachimbo de Ademar

46

O calor era tão forte

Aonde ia passando

Que até no Polo Norte

Tinha minhoca queimando

47

Zé Siqueira se lembrou

Que quem não chora não mama

E logo telefonou

Para Barack Obama

48

Num sofá da Casa Branca

Obama tava deitado

Alisando a gata manca

Que ganhara de um soldado

49

Ele tava estressado

Com a crise econômica

Quando lhe deram o recado

Gritou porra e bubônica

50

Pegou o fone e berrou

Siqueira sua grande mula

Por que você não ligou

Pro idiota do Lula?

51

Lula estava biritando

Com Dilma na sua casa

Zé Dirceu chegou bufando

Com um recado da Nasa

52

Escrito em bom português

Diz o Dr. Zé Antonio

A gente arrombou de vez

A camada de ozônio

53

Lula chamou Zé Siqueira

Para Brasília urgente

Pois ele estava em Pesqueira

Na casa de um parente

54

Quando chegou em Brasília

Siqueira deu seu recado

Eu quero para a família

Hora extra do senado

55

Com Lula na sua cama

Siqueira pediu clemência

E botou Lula e Obama

Pra falar em conferência

56

Por causa dessas sequelas

Ele foi depor na ONU

Quando chegou em Bruxelas

Tava morrendo de sono

57

Siqueira foi acordando

E quase teve um piti

Zé Sarney tava chamando

Pra depor na CPI

58

Contando com seu cacife

Voltou despreocupado

Quando chegou em Recife

Tinha sido excomungado

59

Ele disse no Congresso

No balcão da CPI

Meu fogo fará sucesso

Quando chegar por aqui

60

Na ONU foi liberada

Uma mala de dinheiro

Que era pra ser usada

Pra contratar um bombeiro

61

Encerraram o palavrório

Pra dividir o dinheiro

Botando no relatório

A culpa no candeeiro

62

Tendo sido liberado

E desvendado o mistério

Siqueira foi convidado

Pra assumir um ministério

63

Com seu grupo reduzido

Lula logo abriu o jogo

Você vai ser conduzido

Ao Ministério do Fogo

64

Que bendito fogaréu

Que o separou de Maria

Pois se sentia no céu

A partir daquele dia

65

Agora sua labuta

Era arrombar a Nação

Depois de perder a luta

Pro maldito Lampião

Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 05/04/2012
Código do texto: T3595844
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