Uai

Uai!

maria da graça almeida

Na contradição dos versos,

na invalidez das rimas,

no descompasso da métrica,

sou o peso da fumaça,

da medalha, o reverso

a solidez da neblina,

o recheio da carcaça,

a graça que faz chorar.

Se sou uva, sou a passa,

funileiro que amassa,

anjo que ameaça,

fantasma que faz sonhar;

trovador de boca quieta,

lápis das letras incertas,

palavra do riso pouco,

sorriso dos poetas loucos.

Se moça, beijos na boca,

se idosa, boca insossa,

se feia, não sou a primeira

se linda, não moro à míngua.

Se rocha, sou pedra que lasca,

se corte, sou faca sem fio,

se lorde, desvisto a casaca,

se mar, dou ares de rio.