O SABOR DA POESIA.
EU SÓ SINTO O FRESCOR DE UM BOM POEMA
QUANDO ESCUTO O ABOIO NA CHAPADA
DE UM VAQUEIRO ENTOANDO UMA TOADA
NUMA TARDE QUE O SOL DA COR DA GEMA
VAI SUMINDO NOS GALHOS DA JUREMA
PRA CEDER SEU LUGAR A ESCURIDÃO
PASSA UM VENTO SOPRANDO PELO O CHÃO
AVISANDO QUE A NOITE SE INICIA
EU SÓ SINTO O SABOR DA POESIA
QUANDO CANTO ESSAS COISAS DO SERTÃO.
ACORDAR COM AS GALINHAS NO POLEIRO
E COM UMA VACA URRANDO NO CURRAL
NUM LAJEDO BOTAR RAÇÃO E SAL
PRA NUTRIR TODO O MEU GADO LEITEIRO
JOGAR MILHO PRA OS PORCOS NO CHIQUEIRO
IR BUSCAR NO ROÇADO A CRIAÇÃO
AMANSAR BURRO BRABO NO MOURÃO
CATAR MILHO NA ROÇA OU MELANCIA
EU SÓ SINTO O SABOR DA POESIA
QUANDO EU CANTO ESSAS COISAS DO SERTÃO!
NUM CAMPINHO DE TERRA MEIO RUDE
EU CALÇAVA FELIZ MINHA CHUTEIRA
PRA JOGAR FUTEBOL A TARDE INTEIRA
NÃO FALTAVA VONTADE E NEM SAÚDE
DEPOIS IA PRA BEIRA DE UM AÇUDE
TOMAR CANA COM CALDO DE PIRÃO
COZINHADO NUM VELHO CALDEIRÃO
ERA A FARRA MELHOR QUE AGENTE IA
EU SÓ SINTO O SABOR DA POESIA
QUANDO EU CANTO ESSAS COISAS DO SERTÃO!
POR EXEMPLO CANTANDO EU NADA SINTO
SOBRE A HISTÓRIA DE ROMA,GRÉCIA E CRETA
MÁS NA HORA QUE ESCUTO UM BOM POETA
UM REPENTE ME SURGE COM INSTINTO
ME INSPIRO COM UM BOI CORRER FAMINTO
A PROCURA DE UM SACO DE RAÇÃO
UMA PORCA SUMIR SEM TER RAZÃO
E ESCONDER POR UM TEMPO A SUA CRIA
EU SÓ SINTO O SABOR DA POESIA
QUANDO EU CANTO ESSAS COISAS DO SERTÃO!
GLOSAS:JÚNIOR ADELINO
MOTE:CARLOS AIRES