Baixinho Invocado



Pra cima mandei uma carta
Pra baixo foi um canudo
Pra um veio descascado
E uma velha com casca e tudo
Eu vou contar uma história
Uma cena que assisti
Pra aquelas bandas de lá
Na vila Gravataí
Muitos anos se passaram
E ainda não esqueci
Eu tomava uma cerveja
Na venda de seu miúdo
Quando entrou um baixinho
Tinha um peito cabeludo
O nariz era achatado
E ainda era papudo
As pernas embodocadas
Os olhos muito graúdos
Do bigode esparramado
Que tampava a cara tudo
Ele tinha no pescoço um grosso cordão de ouro
O bicho falava grosso que parecia um besouro

Disse para o dono da venda:
“Bota uma grande pra mim”
Virou o copo na goela
Dizendo:
“essa é porreta”
Ainda cuspiu no chão, depois de fazer careta
Puxou uma nota graúda, jogou em cima do balcão
E falou para o vendeiro:
“Guarde o troco patrão”
E me veio no pensamento, esse não é gente não

Houve um silêncio geral
Ali ninguém deu um píu
Ele olhou para todo lado
E essa frase repetiu:
“que que é, to pagando”
Virou as costas e saiu
Disse o comerciante:
Será isso o capeta
Que escapou do inferno
Ou vem de outro planeta

O povo daquela vila, pelo baixinho procurou
Fazendas e corrutelas e em lugar nenhum passou
Se ele não entrou no chão, tomou doril e exalou.

JG Correa o Contador de Histórias
Enviado por JG Correa o Contador de Histórias em 23/10/2011
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