O bom velhinho
Ora ora, doce ilusão de criança feliz,
cumprir os deveres que o mestre diz,
entre castigos e promessas absurdas
num ano imenso que jamais se acaba,
por um sonho que um dia idealizou,
jurou falso, arrependeu-se e chorou,
e o presente natalino virá?,suspense
postergado apenas a quem o merece.
O bom velhinho Noel, que Noel nem é,
tampouco um velho tropical da maré,
um bispo de nome São Nicolau, alemão
que às renas da neve pregava sermão
e adorava partilhar seu berço de ouro
com as humildes crianças sem tesouro,
sem pai nem mãe, sem eira nem beira,
carecendo alimento e afeto a toda hora!
Ah, se Nicolau soubesse que mito virou,
e a publicidade da mídia o transformou
num símbolo capitalista inimaginável,
ele que em sua vida nobre e respeitável
ensinou dar aos pobres sem recompensa,
abdicando toda a herança na esperança
de um mundo melhor, de paz e de bem,
creio que jamais dado um reles vintém!
Pena seu altruísmo não seja instrumento
para levar nosso Jesus a cada pensamento
carente da fé cristã, que almas refrigera,
despertando nelas a perpétua primavera,
que frondeja e refloresce boas sementes,
afinal este é espírito do natal verdadeiro,
na imagem dum velhinho aventureiro,
que ao universo levou tantos presentes!
O que se quer é do inicio do ano ao final
é aumentar o rol de supérfluos no natal,
competem shopping, grife, preço, beleza
quanto maior for a tecnologia menos reza
se escuta daqueles que se dizem cristãos,
pseudo-espiritualistas, órfãos de irmãos,
tiram do natal seu gordo décimo terceiro
para auto-afirmação mais um ano inteiro.
Assim progride sociedade, no cinismo
e deslancha a indústria do consumismo,
enquanto o aperfeiçoamento da alma,
ah este permanece literalmente na chama
enegrecida do inferno que ninguém quer,
mas por não ousar dar o salto de liberdade,
nele se inflama, grita sem parar de sofrer
até letalmente banir-se da eternidade.
Santos-SP-06/12/2006