Meu condado pequenino
Meu Condado Pequenino.
MCantarelli
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Ainda hoje recordo, do meu tempo de menino,
No meu reino encantado, no meu Condado pequenino
Lembro do sítio, do laranjal, cujo dono era Zô, ( Honorato Cabral),
Que se estendia florido, por detrás do meu quintal
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Do feixe de cana caiana, que de caminhões caiam
Tão doce, quanto era doce correr,
por entre perfumado plantio.
Lembro do banho de bica , de água pura e cristalina
Que saciava a nossa sede por entre bambus na colina,
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Lembro das lavadeiras
com suas pesadas trouxas,
Por entre coloridas coxas a meninada sempre dava,
maliciosa olhadinha,
Dos roçados de mandioca , dos cajueiros floridos e
das velhas casas de farinha.
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Lembro das retretas,
e dos comícios na pracinha
lembro dos dobrados
Do coreto e da bandinha
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Do antigo “Souza Malheiros” onde aprendi a ler sem tropeço nem deslize,
Com minha bela professora, a Dona Ivelize,
E os desfiles de sete de setembro,
que com certeza, ainda me lembro.
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
As tardes ensolaradas com aquele cheiro no ar.
Eram os tachos de dona Maria do bolo que acabavam de desfornar,
Deixando com água na boca quem se pusesse a cheirar.
Era um cheiro tão cheiroso
quanto o mel dos engenhos de lá.
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Outro aroma que de minha lembrança não sai: o cheiro bom do café.
Torrado com muita fé, pra se tomar com inhame,
Inhame de São Tomé,
E por falar neste nome quantos carros atolaram,
Naquele vermelho barro, da ladeira de S. Tomé.
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Na feira tinha de tudo: farinha dobradinha, feijão de corda
Sarapateu e beijú.
Cocada mel de engenho fumo de rolo e açu..
Corda querosene, galinha de corte e matrizes,
Ainda lembro também do armazém do Seu Ozires.
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Tinha um bairro muito engraçado onde só quem ia era afoito
Tinha muitas mulheres de vida fácil e doce como biscoito,
O bairro dos cabarés, ainda não sei por que,
também chamado dezoito.
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
A escola de datilografia, a oficina de trator,
As eleições pra prefeito onde só quem ganhava era Zô,
A delegacia, a barraca de Biró, onde se jogavam conversa fora
E se tomava um goró.
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
As brincadeiras eram muitas, cavalo de pau,
peão, bola de gude e eu construía lá no fundo do quintal,
esburacadas cidadelas.
Também desenhava a minha escola debruçado na janela
Como era bom ser rei e ser menino,
ser conde e ser plebeu, no meu Condado pequenino.
Talvez alguma coisa, da minha cabeça fugiu
Somente aquelas lembranças do meu tempo de criança
o tempo não destruiu.
Só não esqueci como fui feliz no meu tempo de menino
No meu pequeno reinado no meu Condado pequenino.