“PASSAGEM”

Eu nasci um dia

Certo que vou morrer

Vai à tumba fria descer

A minha matéria fria

Cá fica minha alegria

E todo o meu frescor

Eu rijo e sem cor

Flores, meu envoltório

Fim do meu velório

Caminha o meu andor.

Não ouço o ranger

Dos portões do cemitério

Indo ao meu ascetério

Irei lá permanecer

Onde os germes irão fazer

De mim uma carnificina

Se há vida não se atina

Ter o espírito separado

E ao corpo não ser juntado

Ao se fechar a cortina.

De joelhos papai

Em silencioso pranto

Mamãe, em um canto

Alguém a consolai

Por mim não orai

Seguirei o meu declive

Bem ou mal se estive

Aqui, agora, não importa

Sou uma coisa morta

Orai por quem vive.

Conjunto de gene esquecido

Na lápide um anônimo

Da verve, sinônimo

Do ser ali dissolvido

Pra que mamãe ter parido

Do ventre eu, pra quê

Nascer, viver, morrer

Não é notada a vacância

Somente a substancia

No podredouro a feder.

É o fim da minha historia

Eu sepulto num buraco

Embebido num charco

Sem palma, sem gloria

Amnésia na memória

Dos pares. E eu só

Osso, esboço do pior

Projeto de Deus. Deus

Recebe o espírito meu

E a carne devolva ao pó.

Jurandir Silva
Enviado por Jurandir Silva em 01/03/2011
Código do texto: T2822038
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