A saga de João e família

Quero contar a história

Que fala da ferida

da tristeza da partida

do camponês pra cidade.

Estomâgo cheio de fome,

coração de esperança,

embarca pra capital.

Aqui encontra a maldade,

a falta de liberdade,

o consumismo fatal.

Os filhos vieram primeiro

a mulher, com o companheiro,

todos lá do sertão.

Pra poder ganhar a sorte

eles deixaram o Norte

partiram do seu torrão.

João foi ser faxineiro,

ajudante de pedreiro,

servente e outros que tais.

Ganha um pouco de dinheiro

que dá pra comprar o pão,

mas não salva um tostão

pra realizar o sonho

de voltar pro seu sertão.

A mulher é lavadeira,

mas as terças, lá na feira

gasta tudo o que ganha.

Tanto enfeite bonito,

tanta roupinha nova...

ela quer ficar faceira.

Compra roupa, brinco, besteira...

De janeiro a janeiro

trabalhando o ano inteiro

João não junta um centavo

E vai se tornando escravo

da mídia e da inflação.

Dos filhos não sabem mais

Dizem até muita besteira

Que está preso o rapaz

e da moça, que é rameira.

João, velho, carcomido

dá seu sonho por perdido

já não espera mais não.

Só trabalha pro sustento

Perde riso, perde tempo,

enfraquece o coração.

Um dia, a mulher levanta

vê de João a carranca

aberta num riso manso.

Morreu cansado do trabalho,

de dor e preocupação,

mas conseguiu nesse sono

de derradeiro abandono

voltar pro que era seu chão!

Helena de Santa Rosa

Niterói, 03 de novembro de 2010

16:06

Helena de Santa Rosa
Enviado por Helena de Santa Rosa em 04/11/2010
Código do texto: T2596739
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