Cordel #003: Desafio de João Rolim X Bosco Esmeraldo
GALOPE:
JOÃO ROLIM
Meu primo, pelejas, tranquilo daí
Quem não tem voz boa, melhor se esconder
João Bosco, poeta, do Crato, vem ver
As lindas belezas do meu Cariri
Eu canto o sorriso do povo daqui
E toco o meu pinho sem desafinar
Peleja qual essa não vai nos matar
Pois sei que a morte não mata poesia
Nós vamos bem juntos brincar cantoria
Nos dez de galope na beira do mar
BOSCO ESMERALDO
O Crato é a Princesa do meu Cariri
Que agora é Região, uma Metrópoles, Ana;
É a terra das fontes, beleza serrana,
Tem cana, tem álcool, tem mel, buriti,
Descendo do Arisco, o gostoso Pequi.
Cultura aos molhos, é fácil encontrar
Nas ruas, e praças, em qualquer lugar;
Aonde estiver é bem certa a saudade
Com os dedos na viola, do Crato a bondade
Nos dez de galope na beira do mar.
JOÃO ROLIM
O Crato eu bem sei, é cidade faceira
Lindezas ao vento, melhores não vi
A pedra de força do meu Cariri
Aos pés da Chapada que guarda na beira
Versejo sem medo, e sou sua esteira
Poetas dali vivem rente ao lugar
Não deixam família, não prestam sem lar
No pau-de-arara não vão desistir
Meu primo, também eu não vou me partir
Nem mesmo se for lá pra beira do mar
BOSCO ESMERALDO
O Crato tinha trem, metrô agora aqui vem,
É muito seguro, bonito e agradável.
E tem outra coisa demais degradável
O Crato um apelido bem incômodo tem:
Cratinha, (vergonha!) ironia contém.
Aviões, sem aeroporto, deixou de pousar,
E para Juazeiro se mudou pra ficar.
Agora sem Sesi, sem Sesc, Cratinha!
Sem ter bom político, agora só tinha.
Nos dez de galope na beira do mar.
JOÃO ROLIM
Não tenhas vergonha de ser um cratense
Pois eu já não sou e sou doido pra ser
Nasci na Bahia pra mode tu ver
Mas rezo a cartilha do bom cearense
Não nego a Bahia, mas amo o circense
Que é essa vida, tão puro alegrar
Nasci no Pelô, e cresci no pomar
Da casa de vó, currais, cantoria
Já disse, menino, não nego a Bahia
Mas Crato é mil vezes melhor que seu mar
BOSCO ESMERALDO
O Crato me orgulha; política não.
Nasci em Missão Nova, daqui eu não sou.
Mas sou bom cratense, pois me conquistou
Agora defendo-o com meu coração
Políticos sem pejo, pra mim, serve não.
Saudades, eu sinto daquele pomar
Por trás muita manga pra gente chupar
Pomar de delícias que o vovô plantou
Brincava na casa, Família se espalhou.
Que nem se compara com a praia e com o mar.
João Rolim
Eu lembro da casa de Joaca Rolim
Os três grandes PÊS lá de cima da serra
Poeta, político, profeta da terra
Engenho de cana e de alfenim
Tão doces os cheiros que lembram em mim
A vida tranqüila, o sertão e o luar
Tomemos garapa, tomemos sem estar
Lembrando de coisas tão tristes de outrora
Contemple comigo o céu e essa aurora
Que cantam como ondas na beira do mar
BOSCO ESMERALDO
Uma casa bem grande o vovô construiu
Só pra reunir a família por lá
Eu tive a alegria de lá ir morar
Os filhos e netos ali reuniu
Vovó sempre alegre, melhor não se viu
Subiam no sótão, amendoim a pegar.
Nos tanques de chuva ia banho tomar
A mesa era farta, e o amor, nem se fala
No peito, a saudade, reclama, não calar.
Saudades, aos molhos, daqui deste mar.
João Rolim
(Continua - Aguardem)