Ode ao Peido

Eu solto peido aos bocados

Porque peidar é um dom.

Peido frouxo, afulozado

E cheiro pra ver se é bom.

Há peidos bem afinados

Cada qual canta num tom.

Peidar é a liberdade,

É real, é euro, é libra!

Vale mesmo o quanto fede

Sendo de massa ou de fibra.

Quando peido com vontade

O fole das pregas vibra.

Peido e peido de valendo

Comigo o cu se arrebenta

Quando como feijoada

Peido bem mais de setenta.

Ficar comigo de lado

Ninguém nesse mundo agüenta.

O peido é filho do boga,

Criado pelo gambá.

Parido pela ticaca,

Afilhado do preá.

Mas quando o peido rebenta

Ninguém se chega por lá.

Peidar é lazer; frisson,

É coisa que a gente sente.

Quem nunca peidou na vida

Tem o cu tapado ou mente,

Porque peido é sentimento

E sempre se faz presente.

Peidar é compartilhar

O seu eu com o irmão,

É expor os seus segredos

Sem temer a presunção,

É um aceitar-se gente,

É um querer sem noção.

Bom mesmo é peidar na cama

Todo embaixo do lençol,

Um peido de ovo cozido

Age mais que rupinol

Acorda-se no outro dia

Como carniça no sol.

Um dia soltei um peido

Que nem eu mesmo agüentei.

Fedeu tanto o miserento

Que em vez de cheirar, chorei.

Pois sentou-se do meu lado

Um tinhoso urubu-rei.

Eu cago porque é sólido,

Mijo porque é liqüoso

No revestrés da barriga

O peido chama o fogoso.

- Peido porque dá vontade.

- Peido porque é gasoso.

Eu lanço aqui, desde já,

Um decreto oficial

Do peido, um bem-renovável,

Entre todos, sem igual.

Liberdade de expressão

Ao nosso bem natural!

Peido porque é cultura,

É o gás da sociedade!

Fabriquemos carro a peido

Pra nossa comodidade.

Gás natural é pros trouxas,

Nosso peido é realidade.

O peido é que nem a morte,

É como amor, é paixão.

Não se sabe dia ou hora

Pra desdizer a razão.

Peida-se a qualquer pessoa

Sem lesar ocasião.

O meu peido é impiedoso,

É predador, nunca o teste.

Peidei por ali no Egito

Um rasgante para o leste

Que todo mundo esperou

Foi mesmo a oitava peste.

Peido porque é humano

Peido. E peido de com força.

Se pegar no olho cega

E não deixa a janta insossa.

Meu peido já arrancou

Até cabaço de moça!

Peido deveria ser

Vendido em supermercado

Para acender lampião

Ou cigarro amarrotado,

E fogo de fogareiro

Num churrasco do arretado.

O peido é mais popular

É show-man, é democrata.

Peida o rico e peida o pobre

Na missa ou na serenata

Até buceta dá peidos

Depois de levar chibata.

Não se peida por esporte

E nem por necessidade.

O peido é dádiva ganha

Não se tem pela vaidade.

Não se nega, não se vende,

Dá-se pela caridade.

Eu canto ao peido meu ânimo:

Peido, peido, peido meu,

Que o amigo cheire o próximo

Bem antes que eu cheire o seu.

Meu peido é bem mais veloz

Que as bigas do Coliseu.

Peidar é viver o dia,

E o futuro chegará

Sem pressa, sem anarquia,

Peido aqui, peido acolá.

O peido que queima mais

É peido de vatapá.

Quem peida os males espanta.

Espanta a sogra e a cobrança,

Espanta burguês e jeca

Mulher, marujo e criança.

Espanta até mal olhado

Sem dele ficar lembrança.

Porque peidar, meus amigos,

É meu estilo de vida.

Pode ser no lotação

Em casa ou fila valida.

Fico feliz quando vejo

Minha barriga crescida.

O peido sai vendo o norte,

Embora saia do sul.

Peido quando como charque

Peido quando como angu

Se de peidar ‘cê não gosta,

Vai tomar no olho do cu!

Peidar é arte, bom senso,

É orgulho da ciência.

Peido escroto, peido tímido,

Eu peido por competência.

Meu peido conhece a química

Dos cheiros da ambivalência.

Peidar também emagrece

Quando se peida feijão.

Por isso peido feliz

E dele não abro mão.

Se peido fosse dinheiro,

Brasil era outra nação!

Boa Vista – RR, janeiro de 2008.