História de um corno mentiroso ou as conversas de um “Corno Star”

Com o pseudônimo: Corneteiro Chifrônio da Galha Graúda

Venham, venham se chegando

Que eu hoje falo danoso

Pois estou com pressa muita

E disso não sou penoso

Venham para esse coreto

Pois trago cá um folheto

Sobre um corno mentiroso.

Esse tal corno infeliz

Muito sofreu com a bondade.

Era bom, justo e correto,

Querido pela verdade.

Só não era pela esposa

Que era feito mariposa

Voando pela cidade.

Certo dia o homem foi

Ao trabalho, mas voltou.

Pois seu patrão saiu cedo

Disseram que viajou

Que foi lá pra CEASA

Então o pobre foi pra casa

E flor pra mulher comprou.

Chegando cedo no lar

O homem logo fez cheiro

Tirou toda sua roupa

E foi pro quarto ligeiro

Mas chegando no seu leito

Reconheceu que o prefeito

Lhe tava dando chifreiro.

O pobre pegou peixeira,

Pedra, espingarda e vassoura

Correu atrás do prefeito

Lhe jurando de salmoura

Dizendo: - Vou lhe capar

Pro senhor não mais penar

Com a minha esposa loura!

O prefeito todo leso

De pinto murcho e melado

Mijou-se pela ceroula

Que já cobria o danado

E nisso disse corão:

Cheguei depois do patrão

Do chifre não sou culpado!

Foi nesse instante pronto

Que um ruído se danou.

Veio do guarda-roupeiro

Alguém de lá bravejou:

- Seu traidor, dou-te jeito,

Seu moleque de prefeito,

O senhor me entregou!

O marido moleceu

Quase todo no laminho

O seu querido patrão

Tava lhe dando chifrinho.

O corno dali correu

De fato, ensandeceu

E assim seguiu seu caminho.

Ele cruzou a cidade

Em danada correria

Subiu, desceu ladeira

Foi fazendo mancharia.

Pois no céu tinha rabisco

Que só um corno em cisco

Feito um doido é que faria.

Ele correu té cansar

Chegou na beira do rio

Começou a lamentar

O seu destino bravio

Da mulher lhe dar chifrada

E como quem não quer nada

Um boi escutou seu fio.

- Por que chora, meu senhor?

E o corno respondeu:

- É porque a mulher que amo

Uma chifrada me deu.

E o boi vendo o disgramado

Disse: num fique assim dado

Imagine o lado meu!

O marido corneado

Viu que o chifre do boi dito

Fazia curva demais

De tantos anos no fito:

- Se meu chifre fosse assim

Eu botava chifre em mim

Pra deixar de ser maldito.

O boi muito do educado

Falou a sua lição:

- Levar chifre é coisa besta

Bom mesmo é coração

Pois corno tem é orgulho

De ter tão grande bagulho

Na ponta do cabeção.

E o boi disse que ser corno

Era estilo de vida

E mostrar o chifre grande

É de pessoa sabida

Assim o boi aclamava

E o marido lhe abraçava

Com prosa bem recebida.

De volta para cidade

O marido ouvia prosa

E em vez de se esconder

Tinha a alma charmosa

Pois já era conhecido

E dava no escrevido

Autógrafo para Rosa.

Já era um “Corno Star”

Desfilava todo chique

De tanta inveja danar

No povo do alambique

Mas quando deu no cafofo

Viu a mulher já no mofo

Sem ter mais nenhum repique.

Ele ficou danado,

A mulher tava rezando.

Chegou pra ela e tacou:

- Por que não tá corneando?

E a mulher sem achar gréia

Disse: - Sou da Assembléia,

O pecado tou limpando.

O corno ficou irado,

Não gostou do que ouviu

Ficou todo pantinhoso

Que de casa escapuliu:

Não vou perder meu pomposo

Vou é ser bem mentiroso

Pra ser corno baronil.

E o cornudo foi pro bar

E juntou-se com bebum,

Disse bem alto e feliz:

- Sou corno que toma rum!

E sem ter presunção

Danou-se com emoção

Na prosa de qualquer um.

- Minha mulher, uma vez,

Me deu um chifre dourado

Ele era bem assim

Porque foi de deputado.

E brilhava mais que o sol

Que até mesmo no arrebol

Inda brilhava danado.

E teve uma outra vez

A cara tava espinhosa

Dei dinheiro pra mulher

E ela me foi bondosa

Me lascou pisa de gaia

Que a mazela tacou laia

E a cara ficou foi rosa.

Mas teve uma noitada

Que eu tava muito febronho

Meio tronxo, suorento,

Sem fazer meu gatimonho

Eu disse: - Olha, mulher,

Chama quem tu quiser

Qu’eu não fico mais fadonho.

A mulher trouxe um playboy

Bem forte, todo machoso.

Disse bem certo pra ele:

- Cabra, não fique manhoso:

Coma minha mulher forte

Qu’eu me livro da tal morte

E deixo de ser penoso.

E o garotão fez tudinho

A mulher ficou mansinha

E eu na minha preguiça

Voltei pra minha caminha,

Sem ter mazela qualquer

Fiquei forte bem de pé

Que fui foi comer farinha.

Mas no meu aniversário

A mulher me deu presente

Ela me deu um chifre lindo

Que fiquei muito contente.

Ele tinha um pisca-pisca

Que danava na faísca

Quando ela dava no quente.

Esse chifre fez sucesso

De ter bocado de arreio.

Foi tão famoso que John

Kennedy pra vida veio.

Ele ficou invejoso

Então eu dei o pomposo

Pr’ele entrar num toneio.

Mas a mais incrível foi

Uma nesse mês passado

Mandei a mulher me dar

Um chifre bem aprendado

Ela disse toda quente:

- Só falta ver seu Clemente

Pra quem nunca tive dado.

E eu saí caçando o homem

Procurei no mundo inteiro

Só depois de tá em casa

A mulher gritou ligeiro:

- Clemente és tu, franzido!

Mas de burro fui sabido:

Pra esse não dei dinheiro...

E assim fiquei conhecido:

“Corno Miscigenação”

Pois em casa tem francês,

Chinês, luso e anglo-saxão.

Tem caboclo e indiano.

Tem judeu e muçulmano.

Cafuzo, ruivo e sultão.

E essa foi a história

Dum corno mentiroso

Que pagava pela galha

Só pra ser muito garboso.

E nessa prosa de lista

Até mesmo o cordelista

Já foi corno bem famoso!

Recife, 25 de janeiro de 2006