À Vinda do Senhor Armorial Ariano Suassuna

Demos vivas e cirandas,

Bandeirolas n’arraial,

De par em par com as mãos

Dancemos o nosso sarau

E com rabichola e cilha,

Faremos maior quadrilha

Ao Senhor Armorial.

Vindo da Pedra do Reino

Ou de sua Taperoá,

Montado num jumentinho

Até o Tapacurá.

Aqui traçamos o plano

Ao bardo Mestre Ariano

Sinceras rimas no já.

“Mestre Ariano do Povo”

É seu nome pertinente.

Irmão de Leandro Gomes,

Herdeiro de Gil Vicente,

Filho da canção matuta

Solfejada com a luta,

E gente da nossa gente.

Essa gente que t’empresta

O sorriso como um mote

De chapéu bem estendido,

Donzela querendo dote,

Tem desejos uniformes

Como Lázaro de Tormes

E, às vezes, Dom Quixote.

Tua vinda faz espera

Cá, em nossa freguesia.

Batem os guizos das cabras,

No pino do meio-dia.

A retreta faz melhor

O forró dado em redor

Com boi, carneiro e cutia.

À noite, sempre a dormir,

Os teus atos de arrebol

São teus dedos de aquarela

Tocando no Si Bemol

A alvorada calada

Pr’uma mulher coroada

Sempre vestida de sol.

Teus autos, tuas farsas,

O negro, o pobre e o Brasil

Estão bordados na rima

Que fizeste pra Seu Biu

E tuas rezas de vida

A Nossa Compadecida

Do andor pra ti sorriu.

Teus romances, teus poemas,

A clave de Madureira,

As academias tantas

Entre as quais a Brasileira,

Teu verso em xilogravura

Que só o Eterno apura

A vitória companheira.

O batalhão que desanda

Marchando com a folia,

Não sabe com quantos céus

A noite criou o dia.

Porém sabe fazer verso

Que neste cordel converso

No rimado da poesia.

Vicentão e Euricão,

Benedito e Mariquinha,

Caroba, o Padre e Dodó,

O Bispo e Cabo Rosinha

Chicó, na boa preguiça,

A mentira desenguiça

Na quermesse da pracinha.

Ariano (será Pedro?),

Recife te deu a mão.

A mão também estendeu

Quando tive precisão.

O exílio não há mais,

Ele se afogou no cais

E cantamos a canção.

Canto também teu mancebo

Pelos idos de estudante.

O poema no jornal,

Um mero aprendiz de Dante.

Louvo os risos da Manhã

Lá, na fazenda Acauã

Nas travessuras d’Infante.

Mestre Ariano, escute

Esse pobre cancioneiro.

Canto versos tão contidos

Que não pedem por dinheiro.

O teu sorriso poético

Talvez simples ou profético

Num véu de mamulengueiro.

Mestre, há oitenta anos

Marcaram teu calendário.

Imortal, não “imorrível”

Tem a mão do literário.

Filho de Rita e João

O cordel bate o pilão

Pelo teu aniversário.

Do Monte Olimpo te veio,

Muitos vivas e cordões.

Por Homero e por Virgílio

Decoraste teus brasões.

Das mãos da Literatura

A coroa te figura

Lado a lado com Camões.

Do sertão até Recife

Foi o tempo já caduco,

Nele estavam João Grilo

Quaderna e um mameluco,

Que gritaram lá em riba:

Ariano é Paraíba!

Ariano é Pernambuco!