SOU RELHO PARA BATER / NO TEU LOMBO TODA HORA
Aqui está parte das estrofes da Poetisa Luciene Soares, em cantoria virtual empreendida na Comunidade Projeto Cordel, em junho de 2009.
E eu sou o bicho papão
Que a criancinha tem medo
Eu sou o próprio degredo
Um carro na contramão
Eu sou a raiva do cão
A dor que em teu peito mora
Aquele ovo que gora
Para o pinto não nascer
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
Sou pior do que frieira
No pescoço eu sou a canga
Sou o cão chupando manga
Sou briga em mei de feira
Sou navalha, sou peixeira
Sou o azar da caipora
Eu sou a lei que vigora
Quem controla o teu viver
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
Sou a formiga saúva
Que devora o teu roçado
Eu sou um campo minado
Sou o pranto da viúva
Daqui sou a mandachuva
Sou dona, sou a senhora
Sou aço que ninguém tora
Por isso torno a dizer:
Sou relho para bater
No teu lombo a toda hora
Não que eu seja gabola
Tenho ódio da mentira
Meu estômago revira
Se conto uma mentirola
Mas quando pego a viola
Grito pro povo "simbora"
E o refrão que vigora
Claramente podes ler
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora!
Pedro Primeiro gritou
Às margens do Ipiranga
E um índio velho de tanga
Desse grito desmaiou
Quando o velho acordou
Viu que Pedro fora embora
Falou "vem gritar agora,
Que te ponho a correr!"
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
Só sei que o cangaceiro
Chorou feito um menino
E no badalar do sino
Correu para o terreiro
Mas, Padin Ciço, ligeiro
Alcançou ele lá fora
Disse, quero vê agora
Qual santo vai te valer
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora!
Mote e Glosa: Luciene Soares