CLARICE LISPECTOR: MISTÉRIO E FICÇÃO PROVOCANDO A RAZÃO
Nasceu lá na Ucrânia
Sua terra natal
Os tempos eram de guerra
E era a guerra mundial
Aportou em Maceió
Fez de lá o seu quintal
Gostava de fantasia
Um olhar de meiguice
Uma garota esperta
Desde sua meninice
De sobrenome Lispector
Estou falando de Clarice
Vou contar a sua história
Tão bela quanto a Gaia
Em seu nome de origem
Era tida como Haia
Nome dado pela mãe
É como um dia que raia
Seu pai era judeu
Não era nenhum caduco
Saiu de Maceió
Foi bater em Pernambuco
Buscando melhorias
Nada tinha de maluco
Foi aí que a escritora
Começou a florescer
Lá tempos de criança
Clarice podia ver
Que sua imaginação
Iria transcender
Com mosaicos da vida
Sua história foi tecendo
Clarice pegava o papel
E seguia escrevendo
Histórias intermináveis
Pensamento florescendo
Uma criança tímida
Que pouco se divertia
Queria brincar carnaval
Mas não tinha alegoria
Com sobras de retalhos
Criava a fantasia
Depois de adulta
Não perdeu o astral
Partindo das angústias
Fez “Restos de Carnaval”
Só não era mais feliz
Sua mãe sofria um mal
A leitura de Clarice
Tem que ser reflexiva
Ela seguia uma linha
Bem introspectiva
Se não entendeu releia
E vai ser compreensiva
Clarice adentrava
Cá em nossas amarguras
Externando as nossas dores
E as nossas rupturas
Da nossa própria essência
Relatava as agruras
Clarice é jóia rara
Que surgiu nesse hemisfério
Às vezes o que escrevia
Tornava-se grande mistério
Para a própria escritora
Que está no cemitério
Isso não quer dizer
Que Clarice é mortal
Todos os seus escritos
Já habitam um portal
Da imortalidade
Pois falava o que é real
Embora em seus escritos
Tenha muita ficção
Como flechas nos atingem
Bem dentro do coração
E nos faz refletir
Explodir de emoção
Em meio aos sofrimentos
Não se deixava abater
Mesmo com afazeres
Começava a escrever
Uma forma que encontrava
Para poder sobreviver
Escrever para Clarice
Era uma transmutação
Sentia que seu viver
Era pura convenção
Buscava sua essência
E tinha convicção
Escrever para Clarice
Era como respirar
Despontava um pensamento
Começava a anotar
Depois era mais fácil
Para poder concatenar
Clarice era experiente
E tinha visão de mundo
Era pessoa sensível
De sentimento profundo
Vivência e criatividade
De pensamento fecundo
O forte de Clarice
Não era a simpatia
Ela era bem direta
E às vezes arredia
Com questões inteligentes
A porta se abriria
Clarice não se achava
Escritora profissional
Sua escrita era livre
E nunca convencional
Embora com esse porte
Eu nunca encontrei igual
Como todo escritor
Clarice tem pontos de vista
É humana como nós
Percebi em entrevista
E Clarice transmitiu
Já me deu a sua pista
Clarice deu então
A entrevista derradeira
Estava bem cansada
Sua alma estradeira
Já entregara os pontos
Essa mulher guerreira
O que ela falou
Causou-me arrepios
Ela estava impaciente
Provocava calafrios
Afirmava está morta
Com pensamentos sombrios
Mas não é dessa forma
Que dela vamos lembrar
Sugiro leiam as obras
E vais então concordar
Que Clarice virou estrela
E foi para o espaço brilhar