CORDEL DA MISCIGENAÇÃO DO BRASIL
São os livros de história
Repletos de enganação
Iludindo as crianças
E o resto dos cidadãos
Por não ter capacidade
De tudo que aconteceu
Demonstrar sem alienação.
O Brasil já existia
Não foi invento de Cabral
Nem o seu nome se deu
Pelo tão famoso pau.
O Brasil era uma ilha
O índio seguiu sua trilha
Fez daqui seu natural.
O índio aqui chegando
A natureza respeitou
A terra era um bem comum
Dava a todos seu amor
Para quem dela cuidasse
Dividisse o que plantasse
E visse nela seu valor.
Os índios inteligentes
Viviam aqui numa boa
Canoas e redes faziam
Pescavam em rios e lagoas
Sabedores das espécies
Não tinham doenças, nem pestes,
A natureza em pessoa.
A vida espiritual
Dos índios vê-se em seus ritos
Seguindo a sua crença
Expulsavam os maus espíritos
E toda forma de cura
Da natureza mais pura
Era donde vinha o alívio.
Toda a cultura indígena
Valor incondicional
Era tudo repassado
De forma tradicional
Dos velhos vinha a lembrança
Pro jovem, adulto ou criança
Ter um tesouro moral.
Eram seres dedicados
Trabalho e arte fundiam
Sua identidade mostravam
Em tudo o que faziam
Com muito amor e verdade
Com zelo e serenidade
O belo e o bem dividiam.
Cultuavam danças e festas
Também a sexualidade
Por ser de muita valia
A sua fertilidade.
Ouve a criança o ancião
Fincando sua tradição
Em nossa sociedade.
Os índios eram guerreiros
Trabalho bem dividido
O homem ia à guerra
Da mulher era o cultivo;
Fazia também o vinho
E guardava seu carinho
Pro seu retorno altivo.
A guerra era um ritual
Recheado de magia;
Era comum praticar
Também a antropofagia,
Mas acontecia somente
Se um inimigo valente
Ao Tupinambá cedia.
Todos sabiam de tudo
Nada tinham a esconder
Dividiam os saberes
Pra como iguais viver
Não usavam a informação
Por poder ou ambição
Mas para bem conviver.
Chega o europeu sisudo
Como se de tudo dono
Com cartas como cartório
Nessa terra fez seu trono.
O índio em paz não fez guerra
O branco pegou sua terra
Deixa ao índio o abandono.
O Índio ingênuo e indefeso
Ao dominador hostil
Ofereceu sua ajuda,
Mas esse por ser tão vil
Ao índio escravizou
Com sua mulher cruzou
Miscigenando o Brasil.
O português muito esperto
Ao índio deu pá e enxada
Afora crença e doença
Não trouxe quase mais nada.
Nos ensinaram a barbárie
Pondo em nossa alma a cárie
E em nosso lombo uma carga.
Quem por aqui se instalou
Como fosse parasita
Sugando um corpo sadio
Tinha um nome: jesuíta!
E em nome da religião
Pregou a dominação
Da tradição fez desdita.
Com eles veio de tudo
O que não presta e o ruim
O grilhão e a chibata
Escondidos no latim
Tupi vira português
Pra depois virar freguês
A colonização é o fim.
Virando mais uma folha
E continuando a História,
Chegamos aos nossos negros
Numa página inglória
Dos Lusitanos escravos
Antes guerreiros e bravos
Viraram servos agora.
O negro muito sofrido
Sempre foi discriminado
O tormento e a escravidão
São de hoje e do passado
Como outras nações do mundo
Tem como um pano de fundo
Portugal o mundo escravo.
Brancos e negras deitaram
E nossa miscigenação:
Foi a negra uma égua
Foi o branco um alazão
E nesse imenso terreiro
Surge o povo brasileiro
Pra formar nossa nação.
O negro foi resistindo
Na cultura e religião
E a marca do africano
Moldou a nossa nação
Na nossa música, a arte
Na ginga nosso estandarte
No orgulho, nosso brasão
Esse povo diferente
E muito trabalhador
Alegre, sempre contente
Um longo tempo passou
Mas a aflição perpetua
Pois o negro continua
Nas mãos do opressor
O branco, o negro e o índio
São hoje um único povo
São o povo brasileiro
São gente e não um estorvo
Mas os líderes da vez -
Como fez o Português -
Nos querem escravos de novo
E o que se vê hoje em dia
É um espelho do passado:
O Poder se delicia
O Brasil paga o pecado -
Delegamos o poder
A quem só tem a oferecer
O fogo, o ferro e o fardo
E só pra exemplificar
O caos da atualidade
Eu vou dar alguns exemplos
Que não são banalidades
São o nosso dia-a-dia
São nossas marmitas frias
Retratos da crueldade:
O povo agonizando
Por falta de atendimento
Implorando solução
Vivendo nesse tormento
A dengue o povo matando
E a doença espalhando
Por falta de provimento
Nos ameaça um mosquito
E nem dá pra acreditar
Que a um país que tão grande
Um inseto vá amedrontar
Não adianta o veneno
Pois pra quem pensa pequeno
Pouco é muito pra encarar
A mídia chama a atenção
Pra fatos desimportantes
Enquanto tira a atenção
Pros fatos mais relevantes
E a corrupção vai crescendo
E o povo nas filas morrendo
Por falta de informação
Nos mostram novela e jogo
E os jornais só o que vende
Hoje a foto da Estrela
Amanhã de um indigente
Tudo só vai ser de acordo
Com o lucro e não com o povo
Com o dinheiro e não com a gente
E para aumentar o drama
Temos hoje outro dilema
A re-invasão do estrangeiro
Repetindo o velho tema
Chegando com seu dinheiro
Comprando o país inteiro
Novos tempos, velha cena.
Como fizera Cabral
Em nós só enxergam o lucro
Com a força do dinheiro
Nós: os índios; vós: estupro -
No mundo globalizado
Gente é um bicho adestrado
E o mercado um touro xucro
E enquanto isso o brasileiro
Ganha salário indecente
Sem um teto pra morar
Vivendo como indigente
Pra poder se alimentar
Na feira vive a catar
As sobras do prepotente
E hoje o resultado
Dessa miscigenação
É um cego mendigando
Com um diamante na mão
Nos põem nos olhos a venda
Mas a educação desvenda
Dá ao escravo a abolição
Não tem caneta de ouro
Que mude nossa história
Nem martelo de Juiz
Nem medida provisória
Só a nossa Educação
Só a conscientização
Transforma cegueira em glória.
Por isso eu, Educadora
Refleti o meu papel
E para Professor e Aluno
Eu criei esse cordel
Pra dele se apropriar
Seus conceitos renovar
E tornar o abismo em céu.
Nosso país tem um nome:
É o meu Brasil brasileiro
Nossa casa, nosso lar
E não pasto de estrangeiro
Nosso Brasil é do povo
E eu quero poder de novo
Ver meu país altaneiro.
E só pra finalizar
Sem ser último ou primeiro
Não penso ser o melhor
Que qualquer dos estrangeiros
Mas eu grito em alta voz:
Nós somos muito mais nós!
Viva o povo brasileiro!