O caso escabroso da Fake Fajuta

Uma história escabrosa, acontecida em um site de relacionamentos, em que um gordo sebento se fazia passar por uma charmosa loura, fazendo de trouxas uma leva de velhos babões, engrupindo todos eles durante muito tempo. Quando se cansou da patranha a falsa loura forjou a própria morte, deixando seus muitos viúvos inconsoláveis.

Engraçado prá dedel este incrível caso que vou contar

Um gordo feio e sebento, arisco como um jumento

Teve como divertimento um bando de velhos enrolar.

Fingia ser uma loura, uma mulher graciosa, um verdadeiro portento.

A história se passou sem que viesse a tona a verdade.

A tal da loura danada, passando nos velhos uma treta,

Namorando um agora, o outro um pouco mais tarde;

Os velhos sendo enganados - a peste da loura era esperta.

Engrupiu um tal de Fernando, capiau das Minas Gerais

Teve um Paulo de outro estado, um Joaquim de Goiás,

Um Mané de Curitiba, Rasputin de Itatiba - coitadinho desse rapaz;

Ficou perdido, sem rumo, Napoleão deu-lhe aprumo, raciocínio veraz.

Os velhinhos sendo enganados, a loura rindo a socapa, cruel e bem sorrateira.

Dela os velhinhos só tinham os scraps, a voz de uma vizinha, jovem risonha e sapeca, gostando da brincadeira

Pegou carona na história, botou mais gás na potoca, os velhos se apaixonando, querendo fazer a feira.

A loura de casamento marcado com mais de um de uma vez, tudo isso no virtual, por mais que pareça besteira.

A coisa foi se esquentando, os velhinhos ávidos, esganados, ensejando a loura depressa pegar,

A bichinha lépida, se esquivando, um monte de história criando, querendo dos velhos escapar,

Virou um deus-nos –acuda, aquela loura sanhuda, fugindo sutil, serelepe, correndo prá lá e prá cá.

Os velhinhos doidos, em tropel, babando no pote de mel que a presumida loura fingia querer ofertar.

Era uma paixão desvairada, os velhos mais nada da vida faziam, senão com a falsa loura sonhar.

Fernando tonto de desejo, babava dormindo na fronha, Rasputin, enciumado, ficava de carantonha sentindo os cornos a coçar.

Mané vivendo inquieto, seu caso lindo, secreto, já Paulo nada discreto corria aos quatro ventos o seu tórrido namoro a espalhar.

Joaquim, dos velhinhos era o mais esperto, foi com o vigário se confessar, contar da loura faceira com quem breve iria casar.

Um dia a coisa explodiu: a tal da loura sumiu; O qüiproquó foi formado, os velhinhos tolos, abestados, quedaram lesos, parados.

O Site então deu a notícia: a loura com toda malícia, de forma fria, fictícia, a própria morte engendrou.

Faleceu de arritmia ou infarto, prá engambelar os incautos, alguma doença tramou: adquiriu de um falsário um obituário inventado.

Foi um chororô desandado, os velhos todos enlutados com noiva recém-falecida, gemendo de dentes cerrados “-Adeus minha querida, que Deus tão cedo levou!!!”

Da neblina surge um namorado, chorando arrancando os cabelos, a beira de se suicidar: informando da cremação, com data e horário marcado.

No meio de tanta emoção, apesar de tamanha comoção, alguém resolve checar: querendo o velório assistir, foi reservando vôo prá ir a féretro tão pranteado.

A loura rindo às escancaras, com tanto panaca apalermado, os velhos caindo, enfartando, tremendo - um fuzuê mal-parado.

A fake loura bebendo uma cerveja gelada, se empanturrando de fumo, planejando novas surtidas na net - com novo perfil bem bolado.

Aqueles velhos babões, uns lobos já desdentados a querer morder carne macia em noites tristes, vazias, na net conectados

Com a loura em libidinosos balés; de repente se viram a pé - perdendo aquele suculento filé que pensavam já haver conquistado.

Todavia, um cidadão persistente, de há muito já de butuca, filmava toda mazurca, sempre com a loura enquadrada, a manter seu andar vigiado.

Ao saber de morte tão triste, em sua pesquisa ele insiste: busca saber mais detalhes; do porque de falecer tão precoce, juntando todos os dados.

A informação não procedia: a perua loura não existia, era um fake idealizado: o nome José, de batismo, por Ellen fora trocado. Botou ascendência inglesa, pai lord, sofisticado, em verdade o fake nasceu queimando carvão nas grotas lá do Cerrado.

Era um gordo seboso, um carvoeiro cheio de mumunha: fez-se passar por loura gostosa, ainda arrumou testemunhas prá consolidar caso tão enrolado.

Os velhinhos desconcertados, não aceitam o caso ter sido desvendado: permanecem todos até hoje em solene luto fechado, chorando a morte da loura - um traveco bem reforçado.

Essa história de má sorte deu até ameaça de morte: o narrador foi se homiziar lá pras escondidas brenhas do Norte, intentando dos velhinhos furiosos muito distante ficar;

Contratou seguro de vida, evitou andar desarmado; os velhinhos procurando por ele, culpando esse intrometido por ter seu sonho por terra jogado.

Ficaram sem loura, sem nada, as noites se encompridando, privados de tão bela namorada; queriam pegar o intruso, arrancar-lhe a pele dos ossos, mandar tornar-lhe capado.

Daí se vê como é triste uma Ilusão acabar, uma potoca ter fim; mesmo um amor sendo fake equivale a uma bela flor no jardim - prá quem não tem nada de seu, prá quem precisa sonhar.

Vale do Paraíba, manhã da Terceira Segunda-Feira de Novembro de 2009

João Bosco (Aprendiz de poeta)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 16/11/2009
Reeditado em 15/08/2010
Código do texto: T1926322
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.