Severino vai a Igreja (Pedaço de Cordel)

I

Sabedor que Maricota foi fazer a confissão

Severino, prevenido, foi o cura procurar,

Botar os pingos no iis; aclarar a situação,

Limpar a barra na igreja, e a sua história contar.

II

Começou logo o matuto a sua defesa fazer:

Seu padre: não é bem assim, Maricota é coisa ruim,

Chego da roça cansado, mesmo com o corpo suado

Ela vem com uns requebros – não posso dizer: Cruz credo!

Já sou no chão atirado, roupa no canto jogado,

Sem nem mesmo dizer ai...vem a fera em cima de mim.

III

Vosmicê é testemunha que além de ser vaqueiro,

Quando ali falta lida, não há o que campear,

Subo no carro de bois, pois sou exímio carreiro

Dirijo a junta dos mansos, escuto as rodas a cantar.

IV

Vai replicando o cura, acabando com a potoca:

Seu Severino me poupe; guarde sua taramela!

Chega lá da vizinhança, relatos vívidos, consistentes

Pois na calada da noite, através de sua janela

Os gemidos que se escutam, não parecem ser de gente.

V

E aqui vai sua prescrição: tome tento seu tarado!

Reze trinta Padre-nosso, um Terço de hora em hora.

Seu padre, o senhor me desculpe, pois sou um cabra arretado,

Vou atrás da Maricota, procurar um nhenhenhém, e chamegar sem demora.

Este causo, de Severino e Maricota, causou muito reboliço lá pras bandas da Sucupira. A vizinhança, de orelha em pé e copo na mão, prá assuntar melhor, já se postava, ao cair da noite, prá ouvir o pega-me-solta daqueles desassuntados.

Vale do Paraíba, Novembro de 2008

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 08/11/2009
Reeditado em 08/11/2009
Código do texto: T1911215
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