O GOSTOSÃO DAS TAPIOCAS

47. O GOSTOSÃO DAS TAPIOCAS

Autor : Heliodoro Morais

Zé de Bila, um cabra ruim

Foi criado na maloca

Trambiqueiro, papudim

Doido e cheirador de coca

Gostava de ser chamado

Gostosão das tapioca

Andava numa motoca

Que tinha sido roubada

Arrancou a carenagem

Deixando a moto pelada

Pra sair fazendo assalto

Quase toda madrugada

O tipo do camarada

Era de dar agonia

Com um dos zói via pouco

Com o outro ele não via

E andava desengonçado

Pulando feito uma jia

Tinha um dente que doía

E outro dente furado

O pé esquerdo era torto

E o direito aleijado

Era o osso da canela

D' um sibite baleado

Tinha o beiço costurado

E a orelha de abano

Um furo no mêi do quengo

Que amostrava o tutano

E a bunda era tão chocha

Que chega engolia pano

O cabelo era tirano

Tinha três fio comprido

Que dava volta no quengo

Arrodeando os ouvido

O queixo desmantelado

E o nariz entupido

De tão fraco e desnutrido

Ele tinha uns trinta quilo

Vinte era só da cabeça

O seu corpo era de grilo

Nem a mãe dele aceitava

Que tinha parido aquilo

Rasgou a calça naquilo

Pra entrar ventilação

Por causa das hemorróia

Que doía feito o cão

Porque tinha machucado

A roseta do botão

Só tem um dedo na mão

Três emenda na costela

Um caroço de abacate

Preso no nó da goela

A língua fica de fora

A boca não cabe ela

Os "zóio" cheio de remela

A pele toda ruguenta

E um monte de catota

Grudada no pau da venta

O bafo destemperado

Fedendo a coisa nojenta

Nem um confeito de menta

Diminuía o mal cheiro

Se ele abrisse a boca

Era o maior desespero

Parecia que falava

Pela boca do traseiro

O sovaco era um lixeiro

Lotado de carrapato

Se levantasse tirava

As sete vida dum gato

Mas isso não era nada

Perto do fedor do fato

Zé de Bila usava o mato

Pra suas necessidade

Impregnava a floresta

Que apodrecia a cidade

Até gambá reclamava

De tamanha atrocidade

E as doença, cumpade

Parecia brincadeira

Tumor e ferida braba

Pereba, xanha e coçeira

Rachadura em calcanhar

Cancro, impinge e frieira

A mancha escura na beira

Da boca da rabichola

É sujeira encascorada

Que grudou e não descola

Mais quatro dedo de sebo

Cobrindo o gogó de sola

A tampa da radiola

De tanto juntar detrito

Tá cheia de tapuru

Misturado com mosquito

Tem até mosca morando

Nesse lugar esquisito

No peito desse maldito

Tem um caroço no meio

Quem olhar logo imagina

Que é o bico do seio

Na altura do umbigo

Pense num negócio feio

Coisa de dar aperreio

A feiúra do rapaz

A sua parte da frente

Passou pro lado de trás

Se está de costa ou de frente

É tudo igual, tanto faz

Ele é um dos animais

Que causa mais alvoroço

Do gambá tem a catinga

Da girafa o pescoço

Do homem tem a canela

Que é o couro e osso

O cheiro de caldo insosso

Ele herdou da hiena

Do cavalo tem o coice

Da galinha tem as pena

A frescura do macaco

E a galhada da rena

Namora c’uma pequena

Que não pode ir na missa

O caso deles parece

Que é caso de puliça

Só pra se ter uma idéia

Ela se chama Carniça

É uma moça roliça

Como baleia amojada

Zé de Bila é carinhoso

Com a sua namorada

Quando se abraça mais ela

Some que ninguém ver nada

Ela é mais apaixonada

Do que atriz de novela

Só não sei se Zé de Bila

Tem como dar conta dela

Mesmo sendo gorda e feia

Ele é mais fêi do que ela

Carniça é uma donzela

Que Zé de Bila quer bem

É uma mulher de peso

Pelo peso que ela tem

Só de feiúra essa moça

Tá pesando mais de cem

E as coxa desse trem

Não cabe numa carreta

De roçar uma na outra

Tem uma rodela preta

Que virou bolha de sangue

De arrancar chapuleta

Pra carregar suas teta

Ela usa uma carroça

Puxada por dois cavalo

Desses cavalo de roça

Pelo tamanho dos bicho

Dar pra encher uma fossa

Dorme numa cama grossa

Feito cama de hospital

Com comprimento e largura

De três cama de casal

Mas Zé de Bila inda chama

Carniça de zero cal

O seu bucho radical

Está cheio de lombriga

Pesando mais de cem quilos

Mais da metade é barriga

A papada do pescoço

Parece um galo de briga

Mas Zé de Bila nem liga

Leva ela pra gandaia

Ninguém ver o que ela tem

Guardado embaixo da saia

A gordura de Carniça

Até pra isso atrapáia

Quando sai com a catraia

Nunca mete a mão no bolso

Se mete na casa dela

Só sai depois do almoço

Ele comendo gordura

E ela roendo o osso

Carniça é rolha de poço

Zé de Bila é um cipó

Ela é um esculacho

Ele é feio de dar dó

Se virasse no avesso

Os dois ficava melhor

Zé de Bila é brocoió

Feito a bexiga taboca

Criado como farinha

Na roça de mandioca

Por isso acha que é

Gostosão das tapioca.

FIM

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 02/11/2009
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