COMO FICOU PONTA NEGRA, O NOSSO CARTÃO POSTAL
43 - COMO FICOU PONTA NEGRA
QUE JÁ FOI CARTÃO POSTAL
Autor: Heliodoro Morais
Cadê meu banho de sol
Meu passeio matinal
Aonde está a beleza
Daquele cartão postal
Que imponente ostentava
E tão bem representava
A cidade de Natal
A paisagem natural
A praia cheia de gente
O sotaque original
Carregado de oxente
A família que passeia
De mãos dadas na areia
Conversando alegremente
O barraqueiro contente
Atendendo com emoção
Na barraca improvisada
De vara presa no chão
Ao som do vento soprando
Vinha a jangada chegando
Tomada de camarão
Nossa pinga com limão
A corda de caranguejo
Um menino no fogão
Assando um talho de queijo
Bem temperado com nata
E um cachorro vira-lata
Se babando no sobejo
O velho do realejo
A ginga com tapioca
O churrasquinho na brasa
O feijão verde, a paçoca
O surfista iniciante
Que cai da onda gigante
E some na pororoca
O foco de muriçoca
Que perturbava um menino
O imenso mar azul
O brilho do sol a pino
O vento trazendo a vela
E a silhueta singela
De um barco pequenino
Um bebê chorando fino
Por causa da mamadeira
Crianças brincando livres
A melhor das brincadeiras
Não existia arrastão
E nem se via um ladrão
Fugindo em toda carreira
Aonde está a poeira
Da velha estrada de terra
As dezenas de coqueiros
O vento morno da serra
Os buggy's vencendo dunas
Como se fossem colunas
De velhos tanques de guerra
O castelo que encerra
Sonhos erguidos na areia
As torres desmoronando
Pela ação da maré cheia
Pipas colorindo o céu
Como nuvens de papel
Sob o sol que encandeia
Peteca e bola de meia
A rede do pescador
A turma do violão
Excursões do interior
A pesca com anzol de vara
Um homem enchendo a cara
E uma mulher de maiô
Aonde está o valor
Da nossa preservação
E o morro do careca
Com sua vegetação
Onde está a alegria
De estar na companhia
Dos caboclos do sertão
A paz que dava a união
Com jeitinho potiguar
No sorriso escancarado
Na forma de conversar
Era boa a brincadeira
E o cochilo na esteira
Ouvindo o canto do mar
Era esse o meu lugar
Ponta Negra, que saudade
Seu encanto foi embora
Com sua tranqüilidade
O que fizeram contigo
Foi um enorme castigo
Pra nossa sociedade
Perdeu sua identidade
Já não pertence a Natal
Tem sotaque diferente
Virou um falso postal
Enterrou o seu passado
Num projeto malfadado
Que só fez coisa banal
A invasão é total
Não tem policiamento
Todo mundo é assaltado
Falta estacionamento
Ponta Negra de hoje em dia
Se debate em agonia
Na dor do seu sofrimento
Esse projeto avarento
É coisa de aventureiro
A ganância fez da praia
Um território estrangeiro
Onde o povo escravizado
Tem o seu sonho roubado
Pela força do dinheiro
Até mesmo o barraqueiro
Hoje nos atende mal
Moeda corrente é euro
Ou dólar, não é real
Parece que a nossa praia
É o país de gandaia
Na fronteira com Natal
Virou oásis do mal
Um antro de perdição
O turismo sexual
É sua grande atração
Nossas meninas perdidas
Trocaram o rumo das vidas
Pela prostituição
A ousada sugestão
De alguém de Portugal
Pra fazer de Ponta Negra
Território sexual
Denota a passividade
Que expõe nossa cidade
Ao desacato moral
O turismo é um portal
Pra formação de divisas
As belezas naturais
Que Natal contabiliza
Já dão pra encher a vista
E encantar o turista
Do resto, ninguém precisa
Vamos suar a camisa
Pra tentar reconstruir
A praia de Ponta Negra
Que é patrimônio daqui
Não deixe o capitalismo
Usar o falso turismo
Pra tentar lhe destruir
Precisamos resistir
A tanta degradação
Acabar com o descaso
Que assola a região
Ou Ponta Negra afinal
Será quartel general
De crime e contravenção
Não à prostituição!
Basta à droga e a bandido!
Vamos buscar proteção
E coisas nesse sentido
Ponta Negra nos pertence
Sou norte-riograndense
Com o orgulho ferido
Mas nem tudo está perdido
Podemos recuperar
Ponta Negra representa
O coração potiguar
Se Deus nos deu de presente
São patrimônio da gente
O céu, a terra e o mar
FIM