Romaria de Quenga

I

Sivirinim das candongas, matuto lá da Catinga,

Na cara põe uma tromba, se aperreia – reclama.

-É tanto corno na praça. Inté parece derrama.

-Ó mulherada pilantra! A safadeza é tanta – só recorrendo à mandinga.

II

Nas caras têm tanta fé, que a gente quase se engana.

Ai Jesus a toda hora, enquanto o chifrudo lá fora

Coloca as mãos na cabeça. – Valei-me Nossa Senhora!

-Não sei mais o que fazer prá essa bruaca conter – tomo um chifre por semana.

III

A baranga que se preze, vai à missa todo dia. Religião é o seu forte,

É devota de Santa Luzia. Tem os joelhos marcados de tanto se confessar.

Sai da igreja capenga, já resolveu as pendengas – então corre de novo a pecar.

IV

É uma mãe extremosa, cuida bem de seus filhotes. O marido anda perdido – tá procurando o seu Norte.

Com a cabeça enfeitada com uma linda galhada. -São meus os filhos? Pergunta, desconfiado.

Ao assistir esta cena, Sivirinim cheio de pena, não poupa o palavreado – eis mais um corno conformado!

Sivirinim é um cabra macho, arretado, natural da freguesia da Catinga de Cima, amansador de burro brabo e touro brigão. Não se conforma com o modo de agir de cabra mole que não dá jeito em mulher barregã.

Vale do Paraíba, noite de quarta-feira, Dezembro de 2008

João Bosco (Aprendiz de poeta)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 30/09/2009
Reeditado em 30/09/2009
Código do texto: T1839518
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