SANSÃO E DALILA EM CAICÓ (SÁTIRA)
42 - EU VI SANSÃO E DALILA
NAS RUAS DE CAICÓ (SÁTIRA)
Vieram da Palestina
Mil e tantos filisteus
Com a missão de escravizar
Em Caicó, os judeus
Lá do sertão potiguar
Até o sul do Pará
Todo mundo se rendeu
Foi aí que chegou Deus
Que veio salvar o sertão
Contratou um cangaceiro
Que se chamava Sansão
Era um caboclo nutrido
Com o cabelo comprido
Feito a juba d'um leão
Valente que só o cão
Derrotou os dominantes
Lhes proibiu de comer
Hambúrguer e refrigerante
E pra não correr perigo
Botou eles de castigo
Na tromba dum elefante
Sansão, um sujeito errante
Gostava de namorar
Foi no baixo meretrício
Que encontrou Semadar
Gostou tanto da mulher
Que tirou do cabaré
E resolveu se casar
Mas ela não quis parar
Com a sua profissão
Perto do motor da luz
Era a maior sensação
Pro povo de Caicó
O que ela fez de melhor
Foi passar chifre em Sansão
Por essa desilusão
Sansão deixou Semadar
Não cortou mais o cabelo
Nem queria pentear
Esse cabelo de moça
Deu a Sansão muita força
E lhe botou pra brigar
O povo ateu pra vingar
Toda aquela humilhação
Mandou matar Semadar
Com um tiro de canhão
Botou dentro d' um uru
Levou pra Jucurutu
Pra adubar algodão
Por causa disso Sansão
Prendeu uns mil filisteus
Mandou fazer o Itans
E quando o açude encheu
Só fez espichar seu couro
Amarrou no sangradouro
E muita gente morreu
Mas Sansão endoideceu
Pela cunhada Dalila
Uma cabocla fogosa
Com faísca na pupila
E fogo no coração
No bar de Zeca Barrão
Foram tomar ron montilla
Ouvindo Martinho da Vila
Devagar, devagarinho
Tomou um copo de cana
Uma caneca de vinho
Foi na Farmácia Central
Engoliu um Sonrisal
Pra vomitar no caminho
Sansão que tava bebinho
Fez o maior escarcéu
Num barraco do mercado
Tomou caldo com pastel
Dalila com muita classe
Alugou um moto táxi
Levou Sansão pro motel
Não teve lua de mel
Pra se guardar na memória
Sansão vomitou Dalila
Que coisa mais vexatória
Mesmo assim a pobre moça
Quis pegar Sansão à força
Não obteve vitória
Pros filisteus essa história
Foi uma grande mamata
Bastava comprar Dalila
Que era muito barata
Que o segredo de Sansão
Ia cair pelo chão
Por cem moedas de prata
Dalila, mulher ingrata
Se encheu de tentação
Armou uma sacanagem
Pra engabelar Sansão
E descobrir o segredo
Da força que dava medo
Aos cabras de Lampião
Pra saber qual a razão
Da força que lhe deu fama
Dalila disse a Sansão
Se é que você me ama
E tem confiança em mim
Diga tintim por tintim
Pra acabar esse drama
Os dois deitados na cama
Foi zero a zero o placar
Dalila vendo novela
Não queria namorar
Fez uma greve de sexo
Deixou Sansão tão perplexo
Que decidiu lhe contar
Vendo o plano funcionar
Dalila disse a Sansão
Precisamos conversar
Discutir a relação
Ou você confia em mim
Ou vou pra Parnamirim
No primeiro caminhão
Discutir a relação?
Peça tudo menos isso
Vou confessar se você
Assumir um compromisso
Ficar de boca fechada
Jurar pela cruz sagrada
Em nome de Padim Ciço
Dalila doida por isso
Jurou não encher o saco
Perguntou, Sansão querido
O que é que lhe deixa fraco?
Sansão disse: a axila
O meu segredo, Dalila
É o cabelo do sovaco
Ela mascando tabaco
Seu amor ofereceu
Sansão morto de cansaço
Deitou e adormeceu
Co' a faca de pescador
Dalila lhe depilou
A força, Sansão perdeu
Um sujeito apareceu
Dalila logo gritou
Sansão olhe um filisteu
Mas quando ele acordou
Vendo o sovaco raspado
Ficou num canto amuado
Abriu a boca e chorou
O filisteu lhe pegou
Sem enfrentar reação
Ligou do seu celular
Pra avisar ao patrão
Amarrou sua canela
E c'um espinho de favela
Furou os "zói" de Sansão
Como perdeu a visão
Sansão saiu da clausura
Vivendo uma vida triste
Numa salinha escura
Sem receber ordenado
Foi pro trabalho forçado
Num "ingein" de rapadura
Sua vida era mais dura
Do que vida de cavalo
Com o corpo chicoteado
E as mãos cheias de calo
Dormia dentro d' um saco
E o cabelo do sovaco
Cada dia era mais ralo
Despejou sangue de galo
Com azeite de dendê
Por debaixo do sovaco
Depois do bicho ferver
Adoçou com rapadura
Pôs quiabo na mistura
Para o cabelo crescer
De Dalila eu sei dizer
Que a grana recebeu
Fez uma casa de taipa
Trocou num burro e vendeu
Não recebeu um trocado
Fugiu com um homem casado
Ficou buchuda e morreu
O prefeito filisteu
Querendo se divertir
Convidou a namorada
Que morava em Acari
Pr' uma festa de natal
Com o Circuito Musical
No castelo de Engady
Antes queria exibir
No coreto da pracinha
Sansão todo acorrentado
Desfilando de calcinha
E na Ilha de Santana
Mandou botar o bacana
Pra cantar feito galinha
Foi começar a festinha
Com o castelo lotado
Em todo canto se via
Filisteu dependurado
Nisso botaram Sansão
Bem no meio do salão
C'um pilar em cada lado
Sansão morto de cansado
Pediu pra nosso senhor
Dê-me força, Deus lhe deu
Os pilares derrubou
Quando o castelo cedeu
O povo todo morreu
Porém Sansão escapou
Depois Sansão se juntou
Com uma cabeleireira
Sentou praça na polícia
Mas não quis seguir carreira
Pediu baixa e se mandou
Pra se tornar jogador
De futebol de poeira
Essa história verdadeira
O mundo jamais esquece
Sansão mora em Caicó
Por detrás do CDS
É sanfoneiro afamado
E barbeiro aposentado
Pelo I N S S
FIM