EU SOU CUPIM NA VIOLA / DOS POETAS NOTA ZERO

De nariz todo empinado

Tem poetinha metido

A voz é um triste mugido

Mas pensa ser afinado

Se acha grande o coitado

Por cantar um lero lero

Poeta assim não tolero

Nesses eu caio de sola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Tem poeta que tem brilho

E ouvi-lo é um prazer

Seus versos podem conter

A seiva que nutre o milho

A força de um caudilho

As cores do quero-quero

Nos elogios me esmero

Se a verve não manquitola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Não há consideração

Pra poeta ruim de briga

Não vale nem uma figa

É um grande fanfarrão

Cabra assim, enrolão,

Confesso que não tolero

Não aplaudo e nem quero

Estudar em sua escola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Eu sou feito terra quente

Que quem pisa queima o pé

Mordida de jacaré

Sou veneno de serpente

Sou guerreira, sou valente

O teu verso eu tempero

Te acabo, te desespero

Tua riminha não cola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Cantador de decoreba

Exibido feito um astro

Não passa de um poetastro

Muito pior que pereba

Bebedor de jurubeba

Nele eu ponho apero

Na briga eu exagero

Dou tiro até de pistola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Mote: Damião Metamorfose

Glosa: Luciene Soares