MOTE DA AEPP: NESTA VIDA QUEM PEGA O BONDE ERRADO // VAI PARAR NA ESTAÇÃO DO DESENGANO
AEPP - Associação Estadual de Poetas Populares
Na viagem da vida, o peregrino
Tem o bem e o mal por opção
E, de acordo com sua inspiração,
Faz o giro da roda do destino
O caminho do bem leva ao divino
Reino sacro de Deus, pai soberano,
A estrada do mal conduz ao plano
Do patíbulo mortal do condenado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
O obreiro da fé e da bondade,
Prega a paz em missão itinerante
Na jornada do bem sai triunfante
Dando amor, vai colher felicidade
Nos porões do castelo da maldade,
Fez-se o palco dos crimes do tirano
Descoberto, esse agente do insano,
Foi detido, punido e confinado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
O viver é eterna encruzilhada
Onde o bem se defronta com o mal
Pelo bem, nosso pai celestial
Faz do reino do céu, nossa morada
O caminho do mal não dá em nada
É um barco no mar do desengano
Que naufraga no meio do oceano
Como protagonista do ditado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
Optar pelo bem, é ter por certo
A conquista final do paraíso
Decidir pelo mal é impreciso
Como um grão de areia no deserto
Cada passo no rumo do incerto
Descortina um futuro leviano
Deus dá glória ao bom samaritano
E o demônio recolhe o desgarrado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
Atentado moral, segregação
No cenário cruel do holocausto
Uma vala comum, o povo infausto
Uma arma letal, a opressão
Dor e morte, terror, destruição
São a saga do ditador germano
Que julgado por ato desumano
Viu ruir o seu sonho alucinado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
Eu conheço centenas de beatos
Que só vivem rezando na igreja
Se desejam rezar, que assim seja
Só não sei porque agem como ratos
Criam farsas, mentiras e boatos
Cobiçando a esposa do decano
Se o pecado mortal não é arcano
No juízo final é castigado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
A mulher sem pudor trai o marido
Que jurou ser fiel, mas não respeita
E o pobre coitado nem suspeita
Que um dia pudesse ser traído
Ela atende aos apelos da libido
O seu corpo vulgar se faz mundano
Encontrada nos braços do fulano
Vai sofrer feito um cão abandonado,
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
O poder é o berço da trapaça
O político é o cancro do país
A miséria não cria cicatriz
Na ferida da fome a dor não passa
A cirrose se pega na cachaça
A bebida destrói o ser humano
O pecado é a marca do profano
E o inferno, a morada do pecado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
Se a guerra é a fonte da desgraça
Só a paz corta o mal pela raiz
Há desonra moral na meretriz
O cigarro é um câncer de fumaça
Língua solta se cala com mordaça
A preguiça é doença de baiano
Quem dá trela à conversa de cigano
Inocente, de besta, é enganado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
O vampiro é terror na lua cheia
A mentira é a tumba da verdade
A soberba é a mãe da vaidade
Cabra ruim de serviço, é bom de peia
A inveja destrói a vida alheia
Como a guerra destrói americano
O coitado é refém do carcamano
E o ladrão vê o sol nascer quadrado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
O poder que mantém o povo escravo
Sob o crivo da força violenta
Por um tempo, no medo, se sustenta
Até quando, do nada, surge um bravo
Que liberta o seu povo, em desagravo
Aos grilhões do temido suserano
Que da forma de certo iraquiano
Vai morrer, pelo mal, decapitado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
Cada um tem na vida o que procura
Decidindo o futuro do seu mundo
Se riqueza não é pra vagabundo
O trabalho constrói e estrutura
Reclamar que a vida é muito dura
É desculpa de algum provinciano
Que mais tarde emburaca pelo cano
E mergulha no mar do fracassado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
Quem atua num palco de fumaça
Pra roubar para si o benefício
Que alguém conseguiu com sacrifício
Numa hora lhe cai a carapaça
Seu teatro, esse um antro de arruaça,
Se propõe enganar e causar dano
Mas no meio da peça cai o pano
E o elenco do mal é soterrado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
O velhaco injeta a sua peçonha
E se faz de pacato homem de bem
Sem pagar um tostão a seu ninguém
Compra tudo o que quer e o que sonha
De cobrança ele não tem mais vergonha
Porque nessa matéria é veterano
Como já enganou até seu mano
Por alguém mais sabido é enganado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
O estupro é um crime violento
É um mal que não pode ter perdão
O tarado é pior do que ladrão
Desprovido de todo sentimento
Pai, amigo, irmão, mal elemento
O vizinho ou um padre puritano
Quem faz isso no seu cotidiano
Cedo ou tarde será violentado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
Plantar vento é colher a tempestade
A descrença é o erro dos ateus
Dar aos pobres é emprestar a Deus
Na poupança da sua eternidade
A moeda corrente é caridade
Corrigida doze meses por ano
O bem jorra num poço artesiano
Onde o mal indolente é afogado
Nessa vida quem pega o bonde errado
Vai parar na estação do desengano
FIM