Nº 28 - LENDAS: O BICHO PAPÃO, A CUCA E O SACI PERERÊ

O Brasil, país gigante

É uma grande nação

De vários credos e raças

E muita imaginação

Pela lenda que se adora

Vocês vão saber agora

Coisas do Bicho Papão

Ele é uma assombração

Que todo menino enrola

Outra denominação

Que aprendi na escola

Do meu primeiro ensino

Era o Papão de Menino

Vulgo Cabra Cabriola

Era uma cabra espanhola

Meio monstro, meio bicho

Soltava fogo e fumaça

Como água de esguicho

Pela boca, olho e venta

Além de ser fedorenta

Como cachorro no lixo

Ela tinha por capricho

Nas noites de sexta-feira

Andar nas ruas desertas

E estradas de poeira

Pra atacar as pessoas

Que estivessem à toa

Na farra ou na brincadeira

A sua intenção primeira

Era subir no telhado

Entrando dentro de casa

Devagar sem ser notado

Porque naquele endereço

Tinha menino travesso

E moleque malcriado

Entrava dando o recado

Através dessa toada:

E sou o Bicho Papão

Que come a meninada

Pela maldade que fez

Também vou comer vocês

Seus carochinhos de nada

Criança ouvindo zoada

Busca logo proteção

Gruda na barra da saia

Estendendo a sua mão

A mãe diz, foi castigado

Porque foi muito levado

Fazendo mal criação

Outra interpretação

Que sobre ele se dava

É que mãe amamentando

Bicho Papão atacava

Mostrando seu desrespeito

Mamava o leite do peito

E o seu filho devorava

Criança não seja brava

E preste muito atenção

Obedeça a sua mãe

Também não seja chorão

Senão na noite escura

Vai receber a figura

Do velho Bicho Papão

Nada na vida é em vão

E nem é mel com açucar

Parece que o folclore

Conta estória maluca

Não é assim desse jeito

A gente muda o conceito

Ouvindo a lenda da Cuca

É velha, quase caduca

Feia, parece fantasma

O corpo desengonçado

O perfume de miasma

Tem o andar claudicante

Respiração ofegante

Como quem sofre de asma

Quem encontra fica pasma

Com aquela criatura

Como uma enfermidade

Feito mal que não tem cura

Acreditar nunca custa

A gente só se assusta

Por excesso de feiúra

Ela sai na cara dura

De noite em todo lugar

Põe a criança no saco

Some sem ninguém notar

Aquela velha corcunda

Tem magreza tão profunda

De ninguém acreditar

Ela gosta de pegar

Bebê que custa a dormir

O menino que é danado

Ou que quer tudo pra si

Como diz o aquele canto

Em forma de acalanto

Que gostamos de ouvir:

Vai-te Cuca, vai daqui

Sai de cima do telhado

Deixa o menino dormir

O seu sono sossegado

O fato gera um conflito

Entre a verdade e o mito

Não tem significado

Outro canto engraçado

Que veio para ficar

E que diz: nana nenê

Que a Cuca vem pegar

Continuando essa troça

Diz que papai foi na roça

E que mamãe volta já

Por tanto representar

A crendice infantil

A cuca há de ficar

Porque sempre existiu

Há razão pra que se entenda

Ela é uma das lendas

Mais lembradas do Brasil

Há três séculos se viu

Outra estória contada

Por velhos e amas secas

Assustando a garotada

Contando as travessuras

De uma certa figura

Destemida e respeitada

Um caboclinho de nada

Que tinha uma perna só

A carapuça vermelha

Feita de algodão mocó

Que tinha forma de touca

E um cachimbo na boca

Cheio de fumo boró

A carapuça era um nó

Dava poder e magia

Aparece onde quiser

Do mesmo jeito sumia

Quem é ele, vou dizer

É o Saci Pererê

O rei da estrepolia

Todo mundo conhecia

Os três tipos de Sacis:

Trique que era moreno

Pererê, preto matiz

E também o Saçará

Com vermelho no olhar

Mais brincalhão e feliz

Do Saci ainda se diz

Se confirma e ratifica

Que ele se vira em ave

Conhecida por peitica

Sem-fim, mati-taperê

Quando Saci Pererê

Sua maldade pratica

Conforme o que se publica

E que dá muita emoção

O seu canto melancólico

Vem de qualquer direção

Querendo se esconder

E para ninguém saber

Qual a localização

Dizem que ela é o cão

Como ave disfarçada

Que sai fazendo maldades

A quem está na estrada

O seu cantar em resumo

Faz gente perder o rumo

E desviar da jornada

Gosta de dar gargalhadas

Ao esconder um brinquedo

Derrama sal na cozinha

Abre currais logo cedo

Faz das crinas uma trança

Homem, mulher e criança

Ficam morrendo de medo

Ele está, não é segredo

Dentro do redemoinho

Quem pegar a carapuça

Ganha um desejo todinho

Com a peneira, sustento

Rosário de mato bento

Podem prender o bichinho

Se o Saci vem no caminho

Lhe perseguindo na mata

Solte uma corda que tem nó

Que ele pára e desata

Aproveitando essa hora

Meta o pé e vá embora

Que pra fugir é mamata

A minha missão foi grata

Desejo que o povo aprenda

A cultivar o folclore

E que seu valor entenda

Espalhando essa cultura

Pra que gerações futuras

Revivam mitos e lendas

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 27/07/2009
Reeditado em 27/07/2009
Código do texto: T1722799