Nº 26 - LENDAS: O CURUPIRA, A MULA SEM CABEÇA E A BESTA FERA

O folclore brasileiro

Grande por sua riqueza

Permeia a mente do povo

Por sua imensa beleza

Em defesa da moral

Do homem, do animal

Da vida e da natureza

Muita gente com certeza

Teve chance de ouvir

A lenda do Curupira

Vinda da nação Tupi

Protetor do animais

De florestas tropicais

Progenitor do Saci

Para o povo Guarani

Não era figura rara

Conhecido por Anhanga

Caipora ou caiçara,

Caapora, Pai-do- mato

Existe muito boato

Da ira da sua cara

A sua lenda declara

Que Curupira era anão

Tinha cabelos vermelhos

Como brasa de fogão

Dente e pelo esverdeados

Era perverso e malvado

Ao aplicar punição

Tinha como proteção

Os pés voltados pra trás

Por suas falsas pegadas

Não ficou preso jamais

Muito poderoso e forte

Ressuscitava da morte

Os queridos animais

Os índios querendo paz

Deixavam pelas clareiras

Penas pra lhe agradar

Cobertores e esteiras

Pra lhe servir de consolo

Quem leva fumo de rolo

Escapa dessa fogueira

Ele andava na carreira

Montando um porco do mato

Seu cachorro Papamel

Não pegava carrapato

O índio que ele pegava

Com um chicote surrava

Ferindo e dando maltrato

O caçador mau de fato

Que a um bicho ameaça

Tem a mulher e os filhos

Transformados numa caça

E soltos na sua trilha

Sem saber mata a família

Descobre e cai em desgraça

É melhor não achar graça

Pensando que é mentira

Não mate bicho do mato

Pra não causar sua ira

Escute bem meu recado

Se for pro mato fechado

Cuidado com o Curupira

O folclore nos inspira

E deve ser cultivado

Transporta para o presente

As crendices do passado

Ao longo dessa viagem

Nos tornamos personagem

De novo mundo encantado

Nossa mente tem guardado

Muita coisa interessante

Como a mula sem cabeça

Um bicho exuberante

Pele negro-acinzentada

Com a cruz branca marcada

No seu pelo cintilante

A mulher que for amante

For mulher ou namorada

Do vigário da igreja

Vai ser muito castigada

Vira burrinha de padre

Sai assombrando cidades

Feito uma alma penada

Fica numa encruzilhada

De quinta pra sexta-feira

Se transforma nessa besta

Desembesta na carreira

Para pagar seu pecados

Corre em sete povoados

Durante a noite inteira

Nessa corrida não queira

Com a mula se encontrar

Seus olhos, unhas e dedos

Ela vai querer chupar

E segue pela estrada

Contrita, amaldiçoada

Até a noite acabar

Vai no galope a chorar

Gemendo no seu degredo

Pra ela não lhe atacar

Só existe um segredo

Ao ouvir o seu soluço

Deite e esconda de bruços

As unhas, olhos e dedos

É forte de meter medo

Sua ira não é pouca

Lançando bolas de fogo

Pela narina e a boca

Onde tem freio de ferro

Que faz a mula dar berro

Ao ponto de ficar rouca

Para anular essa louca

E quebrar o seu encanto

Retire o freio da boca

Tente vencer o espanto

Pois se não tiver coragem

Ela prossegue viagem

Correndo pra todo canto

Se o padre no entanto

Resolver excomungar

A sua infeliz amante

Antes da missa rezar

Sem receber comunhão

Vai fazer a maldição

Para sempre se acabar

Também basta lhe furar

Não precisa ser demais

É só o sangue jorrar

Que esse mal se desfaz

Vai se livrar da burrinha

Mas passa a vida todinha

Sem nunca mais sentir a paz

A mulher que for capaz

Desse pecado lendário

Achando que é piada

Que vem do imaginário

Se quiser é só tentar

Porque vai se transformar

Na burrinha do vigário

Se você não é otário

E sai de quinta pra sexta

É melhor ficar ligado

Se mantendo na espreita

Pode ser que apareça

Uma mula-sem-cabeça

Fazendo papel de besta

Como se fosse uma cesta

De produtos à espera

Que a sede do saber

Aflore na primavera

Como banho de cultura

Tiramos das escrituras

A lenda da Besta Fera

O mito sobre essa fera

Diz que tem duas metades

De homem e de cavalo

Carregadas de maldade

Que num galope danado

Invade os povoados

As vilas e as cidades

Em toda velocidade

Encoberta de mistério

Deixa pessoas malucas

Num estado muito sério

No galope que dispara

A Besta Fera só pára

No portão do cemitério

Depois de tal impropério

O seu vulto se desfaz

Se dissipa no espaço

Igual a balão de gás

Porém por onde ele passa

Fica fazendo arruaça

Entre gente e animais

Solta os bichos dos currais

Ao longo do seu caminho

Numa louca correria

Faz o maior burburinho

Dizem que tal algazarra

É o cão fazendo farra

Se divertindo sozinho

Existe um bom jeitinho

De expulsá-lo pra mata

Basta você conduzir

Consigo um punhal de prata

Que ele não lhe ataca

Corre com medo da faca

Como mulher de barata

Tem muita gente sensata

Mas tem quem não se tolera

Mulher que é assombrada

Macho que se desespera

Não pode girar direito

Homem e mulher desse jeito

São iguais à Besta Fera

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 27/07/2009
Código do texto: T1722792