CHICO ESPETÃO
Compadre Chico é valente
Ao homem nada amedronta
Com a carabina, oxente
Ele enfrenta quem o afronta
Põe pra correr toda gente
Parece barata tonta
Fica bravo igual uma onça
Quando o chamam de graveto
Pois é pequeno e magrela
É fino igual um espeto
Tem o peito cabeludo
E nos pés chinelo preto
O Tião filho de Zefinha
Moleque muito traquina
Gritou: - Chico espetão!
E fez carreira pra esquina
Seu Chico ficou arretado
Pegou logo a carabina
Colocou chapéu de palha
Soltava fogo pelas ventas
Parecia um boi bufando
Vermelho que nem pimenta
Os olhos arregalados
Tava com toda setenta
Quando ele chegou à esquina
Língua arrastando no chão
Nem mais sombra do moleque
Rodava feito um peão
Queria era dar um esbregue
Naquele pirralho anão
Foi pra casa cabisbaixo
Caba pra não ter paciência
Atrás do muro abaixado
Matutava qual a ciência
Para agarrar o moleque
E ensiná-lo a ter decência
Esperou foi quatro dias
Até Tião aparecer
Já tava dando agonia
Ver Chicão amanhecer
Atrás o muro qual múmia
U’a lição Tião ia aprender
Quando o moleque passou
Chico jogou o laço
-Agora te peguei Tião!
Segui quatro dias teus passos
Com a carabina em punho
Moleque safado eu caço
Tião levou u’a lapada, um susto
O cabelo arrepiou
Quis correr mas não podia
A cabeça rodopiou
Pés agarrado na lama
Armadilha Chico armou
Valha-me nossa sinhora!
O que tá assucedendo?
Homi, seu Chico me sorta
Pro mode tu ta me prendendo?
Eu sou um menino santo
Ei, ta me desconhecendo?
-Seu moleque mentiroso
Fio d’uma mãe desalmada
Caba muito preguiçoso
Que cara mais deslavada
Esculhamba e corre légua
adispoi diz: num fiz nada!
Ara seu Chico sou um santo!
Num arredo os pés de casa
Vivo na igreja rezando
Tenho cortadas as asas
Mi’a vida é comungando
Da mi’a boca nada vaza
-Tá achando que sou burro!
Eu ouvi muito bem teu insulto
Foi quatro dias esperando
Igual viúva de luto
vem com história de reza
que todo dia assiste culto
-Tu é caba sem vergonha
E vai aprender a lição
Num tem Zefinha nem Tonha
Nem tem Chico espetão
Tá vendo caba safado?
Até eu perdi a noção.