O AMOR DO PAI PELO FILHO DÓI FEITO A GOTA SERENA

Algumas estrofes do cordel:

Da hora que a gente nasce

Até o dia em que passe

A morar no outro mundo

Vai escrevendo uma história

No caderno da memória

Co'um sentimento profundo

É a brincadeira mais séria

Brincadeira sem pilhéria

Que traz pra vida outro brilho

Mas não tem nada mais nobre

Nem pro rico, nem pro pobre

Do que educar os filhos

Não é fácil, alguém já disse

Mas parece maluquice

O bem ser grande demais

É carinho e aconchego

Tem hora que dá sossego

Tem hora que tira a paz

Um sentimento envolvente

De um bem querer diferente

Que até deixa abestalhado

Vem do fundo, das entranhas

De onde a mãe de pantanha

Perdeu o seu rebolado

Dor que fere, queima e arde

De manhã até de tarde

Maltratando que só vendo

Tira a casca das bicheiras

Das perebas mais fuleiras

E passa a vida doendo

Amor maior que Deus manda

Pega pra torar nas bandas

O coração desse velho

Não há feitiço ou quizumba

Nem despacho de macumba

Missa e reza de evangelho

Pra nos livrar desse troço

Que entra dentro dos ossos

Latejando feito o cão

Bala que estoura lá dentro

E acerta bem no centro

Da veia do coração

É um amor desconjurado

Que invade o peito calado

E se derrama em sufoco

No inferno do céu da boca

Se toda desgraça é pouca

Só deixa a casca do oco

Esvazia a consciência

Ataca que nem doença

Igual a ferida braba

Quando a dor vem é de molho

Derrama água nos olhos

Mas o amor não se acaba

É tão grande que nem presta

Dá tristeza e faz a festa

Com a moléstia dos cachorros

Fica dentro, remoendo

Quanto mais se vai sofrendo

Menos se pede socorro

Um sofrimento sem trégua

Foge à medida da régua

Nos faz refém por amar

Não nos liberta um segundo

Reserva as dores do mundo

Pro nosso peito amargar

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 13/07/2009
Reeditado em 13/07/2009
Código do texto: T1696828