POUCO AZAR PRA MIM É SORTE

algumas estrofes do cordel:

Faz uns dia, acordei de pá virada

Minha boca tava com um gosto ruim

Lá por dentro eu tava quase no fim

Cá por fora eu já não valia nada

Levantei-me de cara enxuvalhada

Como as rugas das dobras do joelho

Os meus zói faiscava de vermelho

Quando fui escovar a dentadura

No meu rosto vi outra criatura

O cão choco por dentro do espelho

A escova torou-se bem no meio

Do susto qu' eu levei dessa mazura

Apelei pras sagradas escritura

Atrás de me livrar desse aperreio

Mas peguei o santo de saco cheio

Estressado, nervoso e muito zanho

Pra tentar ficar bom fui tomar banho

Fiquei puto de raiva e muito arisco

Acabou-se a água do chuvisco

Eu fiquei sem poder lavar o lanho

Nunca vi um azar desse tamanho

Mas corri, fui tomar o meu café

E contar as lorota pra mulher

Disse até que eu andava muito estranho

Relatando a história fiquei fanho

Pensei logo: só pode ser despacho

A mulher disse que viu lá embaixo

Vela preta, alguidá chêi de farinha

Mais um litro de cana e uma galinha

No caminho de casa pro riacho

Não liguei pra mostrar que era macho

Engoli o café me levantei

No batente de casa trupiquei

E rolei pelo chão ladeira abaixo

Despenquei, sem querer, dentro do tacho

Onde um cabra tava fervendo soro

A desgraça bateu no cabiloro

Escorreu pelo canto do cangote

No vexame pulei, dei três pinote

Onde o soro pegou, largou o couro

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 13/07/2009
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