POUCO AZAR PRA MIM É SORTE
algumas estrofes do cordel:
Faz uns dia, acordei de pá virada
Minha boca tava com um gosto ruim
Lá por dentro eu tava quase no fim
Cá por fora eu já não valia nada
Levantei-me de cara enxuvalhada
Como as rugas das dobras do joelho
Os meus zói faiscava de vermelho
Quando fui escovar a dentadura
No meu rosto vi outra criatura
O cão choco por dentro do espelho
A escova torou-se bem no meio
Do susto qu' eu levei dessa mazura
Apelei pras sagradas escritura
Atrás de me livrar desse aperreio
Mas peguei o santo de saco cheio
Estressado, nervoso e muito zanho
Pra tentar ficar bom fui tomar banho
Fiquei puto de raiva e muito arisco
Acabou-se a água do chuvisco
Eu fiquei sem poder lavar o lanho
Nunca vi um azar desse tamanho
Mas corri, fui tomar o meu café
E contar as lorota pra mulher
Disse até que eu andava muito estranho
Relatando a história fiquei fanho
Pensei logo: só pode ser despacho
A mulher disse que viu lá embaixo
Vela preta, alguidá chêi de farinha
Mais um litro de cana e uma galinha
No caminho de casa pro riacho
Não liguei pra mostrar que era macho
Engoli o café me levantei
No batente de casa trupiquei
E rolei pelo chão ladeira abaixo
Despenquei, sem querer, dentro do tacho
Onde um cabra tava fervendo soro
A desgraça bateu no cabiloro
Escorreu pelo canto do cangote
No vexame pulei, dei três pinote
Onde o soro pegou, largou o couro