O MilagreQue Vem da Natureza

Céu escuro, com nuvens carrancudas

Raios, fachos de luz o horizonte

Um ranger de trovão por trás do monte

Qual trombetas há muito tempo mudas

E, esquálidas, as árvores desnudas

Sob o vento se curvam em reverência

O cenário traduz a evidência

Desses claros sinais da natureza

É a chuva que chega, com certeza

Obra prima da santa providência...

Tem poeta matuto atrás de mote

Pra cantar o sertão em verso e prosa

Cada um beija-flor tem sua rosa

Cascavel lá no mato armou um bote

No salão tem um dançador de xote

Que não para de tomar calibrina

Enche a cara, vomita e se amofina

Quando o povo conversa distraído

O telhado da casa é encardido

Pela tisna da luz da lamparina

Nos munturos um grupo de meninas

Vai brincando com fruta de pereiro

Um jumento escamurça no terreiro

A mulher lava roupa numa tina

No fogão um pedaço de turina

Na latada um rapaz amola a faca

Numa moita o canto da curicaca

Um arreio no torno da parede

E um cabra deitado numa rede

Vomitando e gemendo de ressaca...

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 12/07/2009
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