O MilagreQue Vem da Natureza
Céu escuro, com nuvens carrancudas
Raios, fachos de luz o horizonte
Um ranger de trovão por trás do monte
Qual trombetas há muito tempo mudas
E, esquálidas, as árvores desnudas
Sob o vento se curvam em reverência
O cenário traduz a evidência
Desses claros sinais da natureza
É a chuva que chega, com certeza
Obra prima da santa providência...
Tem poeta matuto atrás de mote
Pra cantar o sertão em verso e prosa
Cada um beija-flor tem sua rosa
Cascavel lá no mato armou um bote
No salão tem um dançador de xote
Que não para de tomar calibrina
Enche a cara, vomita e se amofina
Quando o povo conversa distraído
O telhado da casa é encardido
Pela tisna da luz da lamparina
Nos munturos um grupo de meninas
Vai brincando com fruta de pereiro
Um jumento escamurça no terreiro
A mulher lava roupa numa tina
No fogão um pedaço de turina
Na latada um rapaz amola a faca
Numa moita o canto da curicaca
Um arreio no torno da parede
E um cabra deitado numa rede
Vomitando e gemendo de ressaca...