SOU RELHO PARA BATER / NO TEU LOMBO TODA HORA
Eu sou nódoa de caju
Que no pano deixa a mancha
Nó cego que não desmancha
Caroço no teu angu
Sou a sanha do urubu
Que a carniça devora
Na ferida sou espora
Se dói não quero saber
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
Sou pimenta no teu olho
Paulada em tua moleira
Na tua pele coceira
Mosca que cai no teu molho
No jardim sou o abrolho
Um barco que não ancora
Aquela vaia sonora
Que te deixou a tremer
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
O espinho na garganta
Sou um calo no teu pé
Trem doido de marcha ré
Sou pedra na tua janta
Cantiga que não se canta
Patrão ruim que explora
Cicatriz de catapora
Cascavel pra te morder
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
Sou a cárie do teu dente
A corda no teu pescoço
O sal na água do poço
Sou topada no batente
Quem te deixa descontente
Sou a caixa de pandora
Que a todo mundo apavora
De mim procure correr
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
Mote e Glosa: Luciene Soares