LEMBRANÇAS
Quando menina brincava
De pular amarelinha
Da boneca era mãezinha
E bola também jogava
A minha mãe se zangava
Quando sujava o vestido
De chita todo florido
Era moleca levada
Eita saudade danada
Do lugar que fui nascido
Logo ao raiar do dia
Tomar leite no curral
E do banho matinal
Uma farra eu fazia
Pulava na água fria
Com o maior alarido
Eu achava divertido
Toda aquela patuscada
Eita saudade danada
Do lugar que fui nascido
Era luz de candeeiro
Que a casa iluminava
O pavio fumegava
Deixando um forte cheiro
E o ambiente inteiro
Ficava enegrecido
O ar meio poluído
Respiração arruinada
Eita saudade danada
Do lugar que fui nascido
Muito me atormentava
O medo do 'papa figo'
Que ele era um perigo
O povo todo falava
Crianças ele pegava
De um modo escondido
Nem se ouvia o gemido
Da vítima capturada
Eita saudade danada
Do lugar que fui nascido
Minha infância todinha
Guardo em minhas memórias
Mamãe lia umas estórias
Para nós, toda noitinha
De cordel que ela tinha
Lá na feira adquirido
Eu apurava o ouvido
Com atenção redobrada
Eita saudade danada
Do lugar que fui nascido
O circo era a diversão
Para nós quando criança
Tenho viva a lembrança
Do palhaço trapalhão
Gritando a pleno pulmão
Um coro já conhecido
E que era repetido
Por toda a meninada
Eita saudade danada
Do lugar que fui nascido
Roda-gigante pra mim
Sempre foi um desafio
Chegava a suar frio
Perdia a cor de carmim
Mas queria mesmo assim
O brinquedo escolhido
Pois era o mais divertido
Do parque Estrela Dourada
Eita saudade danada
Do lugar que fui nascido
Açude e o ribeirão
Sempre era bom demais
Com meus imãos, nos quintais
Jogava gude e pião
Trago na recordação
Tudo o que foi vivido
Como um campo florido
Cedinho na alvorada
Eita saudade danada
Do lugar que fui nascido
Mote: Poeta Hilário
Glosa: Luciene Soares