Novos Tempos - O Cordel na Internet
Compadre Lemos
Leitor Amigo, permita
Que aqui eu me apresente:
Compadre Lemos, somente,
É o nome que eu tenho usado.
Sou poeta de Cordel,
Não sou nenhum Coronel,
Pra de Senhor ser chamado.
Eu nasci em um estado
Que é lindo, por demais,
Pois sou das Minas Gerais.
E vivo entre montanhas.
Paisagens maravilhosas
Me cercam, nas Alterosas,
E eu não aceito barganhas!
Heróis de muitas campanhas
Nasceram no meu estado.
Ao Brasil, Minas tem dado
Poetas e escritores.
De Rosa a Drummond de Andrade,
Tal orgulho nos invade,
Lembrando tantos valores.
Mas são esses os temores
Que me assaltam o coração:
Teria eu condição
De fazer boa Poesia,
Numa terra de talentos,
De tão belos sentimentos,
De tão perfeita harmonia?...
Mas começo mais um dia
No ofício de escrever,
Pedindo pra merecer
A Divina Proteção.
Me ajude o Maior Poeta,
Me dê a rima correta,
Pra eu cumprir minha missão.
Que me venha a Inspiração
Da Santa Virgem Maria,
Para que minha poesia
Seja só pra construir
Um mundo novo e melhor,
Voltado pro Amor Maior,
Que um dia vai nos unir!
É hora, então de seguir
Com a minha narrativa.
Que me perdoe Patativa,
Se poeta eu quero ser.
Mas um assunto importante
Me traz aqui, nesse instante,
Preciso, pois, escrever.
Pois o leitor há de ver
Que o mundo está diferente:
Nos tempos de antigamente
O recurso era minguado.
A tal Tecnologia,
Que tanto nos auxilia,
Não tinha ainda chegado.
E o poeta, coitado,
Penava, sem compaixão!
Escrevia, com emoção,
Fazia verso e rompante,
Mas tudo o que escrevia
Numa gaveta jazia,
Sem nunca seguir adiante.
Seu verso, naquele instante
Só os amigos que liam.
Se gostavam, só diziam
"Devia ser publicado!"
E ficava no "devia"
Pois recurso não havia
Que lhe desse resultado.
O Poeta, então, cercado
Por tanta dificuldade,
Usando criatividade,
Tentativa derradeira,
Fazia-se Menestrel
E pendurava o Cordel
Em barbantes, lá na feira.
Parece até brincadeira
Um senhor, de certa idade,
Passando necessidade,
Pra divulgar sua obra!
E depois que ele a vendia
E suas contas fazia...
Dizia: nada me sobra!
Não tinha jeito ou manobra
Que resultasse em sucesso.
Dizia ele: eu não peço
Esmolas, mas eu devia!
É muito duro o papel
De se viver do Cordel,
Deixemos de fantasia!...
E, depois, o que se via
Era o vate desistindo
Da Poesia, sonho lindo,
Que um dia alimentou.
Voltava, pois, pra enxada,
Onde o ganho é quase nada...
Só a tristeza ficou.
Nesse tempo, que passou,
E que não foi de delícia,
Pra se mandar uma notícia
Era carta, no correio.
Não era como hoje em dia
Milagre, Tecnologia,
Computador e "e-mêio"
Pois hoje o mundo está cheio
De ciência e de progresso.
Todo mundo tem acesso,
Para se comunicar.
Nem precisa ser doutor
Pois o tal computador
Chegou pra facilitar.
É somente digitar
A notícia, e, nun instante,
Um computador possante
Espalha por todo o mundo.
E, com essa maravilha,
Uma nova estrela brilha,
Nun reluzir mais fecundo!
Um sentimento profundo
De grande e nova alegria,
Trazendo alento à Poesia,
Resgata nossa esperança.
O poeta agora escreve
Sabendo que, muito em breve,
Seus leitores ele alcança.
Na Internet ele lança,
Seus versos, correndo a terra.
Divulgando, desde a serra,
Onde mora, às capitais.
Sua poesia correndo
O mundo, e ele vendo
Os resultados finais.
Empecilhos não há mais,
Como tinha antigamente:
Para se comprar, urgente,
Um folheto de Cordel,
Tinha que ir lá na feira,
Ter a sorte verdadeira
De achar o Menestrel.
Pois hoje, é sopa no mel,
Basta entrar na Internet
E fazer uma enquete
Buscando o nome da obra,
Da Editora predileta,
Ou o nome do poeta,
Que poesia tem de sobra!
Se até veneno de cobra
Se vende, na Grande Rede,
Não existe mais parede,
Nem muro, ou porta fechada.
O longe já virou perto
E o poeta tem, por certo,
Sua obra divulgada.
A coisa está bem mudada,
Não precisa nem de chute.
Já existe um tal de Orkute,
Que ajuda muito a gente.
O Poeta, confiante,
Posta o verso e, nun instante,
O mundo já está ciente!
E com tal expediente
Não existe mais fronteira
A Poesia Brasileira
Chega até no Exterior.
O mundo inteiro conhece
E quem lê jamais esquece
Dos versos nem do autor.
Se são versos de valor,
Na Internet há lugar!
E nós vamos encontrar
Muitos Sites de Poesia,
Diversas Comunidades,
Divulgando raridades,
O que antes não havia!
Este agora é o dia a dia
Do tal Poeta Moderno:
Acabou-se, pois, o inferno
Ele escreve, confiante!
Pois o fato se repete,
No Sertão, a Internet
Leva o Cordel adiante.
Tenho feito, radiante,
Pesquisas sobre Cultura,
Buscando poesia pura
Sempre nova, sempre viva.
Encontrei nomes famosos
Folhetos maravilhosos
De inspiração criativa!
Os versos de Patativa,
Leandro Gomes também
Arievaldo, que tem
Um Projeto, nas escolas!
Com a ajuda da Informática
É a mais pura matemática:
Vamos encher as sacolas!
Cantadores, suas violas,
Seu cantar e seu talento
Não passam mais o tormento
De não ter divulgação.
Escrevem já conscientes
Que seus versos, seus repentes
Já nascem com projeção!
Por isso, no meu Sertão
É outra a realidade.
Com muita seriedade,
Despontam novos Poetas:
Da Bahia, vigorosa,
A voz de Onildo Barbosa
Seus versos, traçando metas!
Mestre JAC, entre os estetas
Da beleza e da Poesia,
No Festiverso surgia,
Chegando à Grande Final.
Com sua rima brejeira,
Mestre Valdir Oliveira,
Um talento sem igual.
E, da Serra do Curral,
Surge o bom Mestre Ribeiro!
Um poeta bem mineiro,
Com sangue de nordestino.
Na magia da viola,
Fazendo verso e escola,
Vai traçando seu destino.
E tem até um "Menino
Poeta", por codinome,
Que vem fazendo seu nome
Na Rede, em pura poesia.
Álesson Paiva, em verdade,
Mostra sensibilidade
Rimando com maestria.
A beleza e a harmonia
Depondo, a nossos pés,
É Suriel Moisés,
Outro poeta que cresce.
Seus versos têm romantismo,
No coração, o lirismo
Talento que não se esquece.
E muito nos enternece
Dos vaqueiros, o labor.
Chega Sílvio Aboiador,
Fazendo versos de Gado.
Poeta pura alegria,
Exímio, na cantoria
Um menestrel consumado!
Lá de Carpina é chegado,
Portando enorme talento,
No seu cantar violento
O Poeta Severino.
É sol, é seca, é sertão,
É muita cor e emoção
Em seu sangue nordestino.
Marco Haurélio, bom menino,
Com H de Home macho,
Acende também o facho
Na Editora Luzeiro.
Publicando em bom papel
Folhetos de bom Cordel
Que lança, pro mundo inteiro!
Merlânio Maia, fagueiro,
Poeta de sentimento
Vem rimando com talento,
Junto a Marcos, seu irmão.
Professor Rariosvaldo
Chega pra aumentar o saldo
Dos poetas do sertão.
Bom amigo, grande irmão,
Da distante João Pessoa,
Trazendo poesia boa,
Escrevendo com estilo,
Outro grande se apresenta
Escreve, ensina e apascenta...
Eis o Mestre Petronilo!
Mas também não é sigilo
Que o homem nada seria
Sem mulher, pois sofreria
De tristeza e solidão.
E aos versos virtuais
Cada vez se achegam mais
Nossas Divas, com emoção.
As poetisas, então,
Surgem, falando de amor.
Dominam o computador
E lançam flores no ar.
É a mulher, com ternura,
Fazendo poesia pura
Para o mundo apreciar.
Chega a Regina, a criar
Seus versos, embevecida.
Cida Santos, Santa Cida,
Pura sensibilidade!
Tessa Bastos, com a filha,
Bárbara bela, que brilha,
Talento e simplicidade!
Dizendo verso e verdade
Mirian Simões aparece
E quem a lê não esquece
Da rima clara e altiva.
Creusa Caires, um talento,
Em seu verso, o sentimento,
Da forma mais criativa.
De poesia sempre viva,
De bom senso e bom humor,
Fazendo versos de amor,
Chega Áurea Charpinel.
O internauta, espantado
Afirma, entusiasmado:
-Eis uma Dama do Cordel!
Me desculpe o Menestrel
Cujo nome eu não citei.
As damas que eu não falei
Quem me perdoem também,
Pois certos todos estão
Que este velho coração
Não vai esquecer ninguém!
E tudo isso se tem
Graças ao computador
Que se fez mediador
Da Poesia Virtual.
É hora, pois, de criar
De produzir e mostrar
Nossa arte genial.
Para combater o mal,
A tristeza, a depressão,
Busquemos a inspiração
Na Poesia edificante.
Não esquecendo jamais
Que os meios virtuais
Levam o Cordel adiante!
E ao Poder Operante
Do Deus de Amor e Bondade
Uma prece, de verdade,
Poetisa e Menestrel,
Façamos, neste momento,
Pedindo, com sentimento
Deus, abençoe o Cordel!
Senhor, o nosso papel
Seja buscar a harmonia
Do mundo, pela Poesia,
Semeando mais amor.
Na luta que se apresenta
Seja a nossa ferramenta
O nosso computador.
Cantemos, seja onde for,
O mundo, que então será
Mais belo, pois haverá
Por certo, mais alegria!
Assim, somos instrumentos
Do Amor, dos sentimentos,
Respeitando ensinamentos
E divulgando a Poesia.
Lembremos: sem covardia
Lutaram os ancestrais.
Esse legado jamais
Morrerá como indigente!
O Cordel, bem digitado,
Se por nós for divulgado...
Será, de novo, semente!
Fim.
Dedicatória:
Dedico este Folheto a todos os poetas e poetisas que doam, felizes, parte do seu precioso tempo à criação e à divulgação da Literatura de Cordel.
Que Deus, o Maior de Todos Os Poetas, continue a iluminá-los, sempre!
Juiz de Fora, MG,
Dezembro 2.006