Neve
A estrada parece não ter mais fim. Essa névoa não me permite enxergar a frente e eu não posso entender. Eu só me lembro de ter acordado deitado na neve sob umas arvores ao lado da estrada. Quem sou eu afinal de contas? Eu nem me lembro desse corpo. Eu não me lembro de nada! Eu estou andando a horas, não estou cansado, mas também não vejo o final dessa estrada e na verdade eu nem sei aonde eu estou indo. Aliás, o que eu sei? Eu estou gelado, minha mente não parece funcionar e esse corpo estranho dói.
É tudo tão deserto e eu não enxergo nada a minha frente ou ao meu lado. A névoa se fecha também atrás de mim e tudo me parece mais confuso a cada metro. Flashs aparecem na minha cabeça e parecem tentar me dizer algo, mas... não faz sentido. Flores de cereijeira caem na tarde branca e há um anjo sorrindo. Eu ando cambaleando até ele e caio aos seus pés. Ele me abraça me colocando em seu colo e pela primeira vez eu pareço sentir segurança. De repente eu estou tranquilo e feliz, mesmo sentindo tanta dor. Eu tento lhe perguntar, perguntar quem eu sou ou o que eu fazia alí, mas aquele anjo com aquele olhar tão sereno só me respondia com um sorriso e aquilo me parecia mais reconfortante que qualquer resposta.
- Me encontre!
É tudo que ele me diz antes de sumir como fumaça diante de meus olhos. Por mais surpreso que eu estivesse, naquele momento minhas forças estavam restauradas e algo queimava em mim, agora eu tinha forças, mesmo que esse corpo que agora eu posso chamar de meu ainda doa. A névoa começa e se dissipar a frente. O caminho atrás de mim aparece e parece menos tortuoso agora, mas eu sei que eu não posso, depois de tudo isso, voltar atrás. Agora havia uma luz adiante e eu seguia até ela e na minha cabeça mesma frase se repetia:
- Me encontre!
Eu me aproximava da luz e meu coração de enxia a medida que eu entrava nela. De repente eu acordo no mesmo lugar, deitado sobre a neve. Dessa vez não há neblina no caminho. Eu olho a estrada atrás de mim e agora eu sei exatamente quem eu sou e o que eu procuro. Dessa vez eu sigo em frente sem olhar para trás. Pela primeira vez eu sei exatemente aonde quero chegar.