Nihilogia

Estou escrevendo este relato de um lugar longínquo no espaço e no tempo da existência. Sou um ser pensante e pertencente a alguma ramificação de aglomerados orgânicos, mais conhecido como vida. Minha investigação sobre a existência-primeira do universo me leva a entendê-lo ser constituído por dois movimentos elementares, que se desdobram em toda complexidade. Chamo este movimento de possibilidade e impossibilidade.

Vamos imaginar uma possibilidade, uma porta, por exemplo. Ela possui a possibilidade de existência, por isso existe. Possui a possibilidade de abertura ou não, de construída ou não. Perceba que mesmo para algo possível de existir, ainda estará permeado por uma impossibilidade inerente de não existir. A possibilidade de algo, sempre estará ao lado do que chamo de uma impossibilidade-possível. Pois, o fato de algo ser de possível existência, não implica na sua existência factual no cosmos, apenas o potencial para tal.

Observemos a impossibilidade. Digamos que neste universo haja uma impossibilidade para existência de portas. Por ser uma impossibilidade, ela não irá existir. Pois, se existir, não será uma impossibilidade-real, apenas um ramo da possibilidade, chamada impossibilidade-possível. Tudo que não existe, é muito maior, se comparada ao que existe. A impossibilidade é mais forte, possui a força da certeza. Algo impossível, não irá existir, esta é a certeza; diferente da possibilidade. Caso as regras deste universo permitam viagens no tempo, isso não implica que o feito se realizara. Em contraponto, caso a viagem temporal seja uma impossibilidade, não importa o que seja feito, continuará sendo impossível.

Como pôde perceber, esta maior força e probabilidade de impossibilidade nos demonstram que o universo possui contingências mais favoráveis ao não existir; mas ele existe. Neste sentido podemos chegar à conclusão de que há uma dinâmica-inicial. Essa dinâmica-inicial pode ser pensada de duas formas: como o jogar de dados, ou como uma esfera dentro de outra.

Peguemos a primeira forma como exemplo. Supomos que o universo não existe, pois, as combinações de “dados” caíram de determinada maneira desfavorável a constituição do cosmos. Algo se deu em sua constituição e organização que impossibilitou sua existência. Amiúde, a impossibilidade de existência prevalece, e nada existe neste período. Mas, outras vezes, por mais raras que sejam, o universo existe. Este existir possui finitude. Quando o não-existir está em vigor, por não haver tempo, nem nada, também nada será perceptível. Só percebemos o que existe, não o contrário. Não podemos notar a não-existência. Pois, nela não há nada além de não-existência; não sentida pela física, nem possibilitando contabilização métrica ou qualquer outra categoria de quantificação.

Uma infinidade de tempo está inserida na impossibilidade de não-existência, maior que o infinito, atemporal. Algo atemporal tem uma peculiaridade interna contraditória de conter a eternidade e a não-eternidade. Por não depender do tempo, tudo dentro da atemporalidade se torna eterno. Em contraponto esta eternidade tem uma duração tão rápida que nem é percebida, por não haver o tempo. Ninguém sente os bilhões de anos que o universo possui, esse tempo todo foi como uma fração de segundos, pois você não existia. Assim se dá a não-percepção da atemporalidade.

Existem momentos em que o universo atinge graus elevadíssimos de abstração e caos, sendo impossível para qualquer ser pensante traduzir em linguagem ou fórmulas.

Agora, imagine a dinâmica-inicial de outra maneira, como o conjunto de possibilidade e impossibilidade lado a lado. Sendo a possibilidade apenas uma pequena bolha dentro de outra bolha de impossibilidade infinitamente maior. A possibilidade é um subconjunto do conjunto impossibilidade. O universo quando regido por esses dois movimentos, entra em ciclos de existência e não existência. Podendo existir de maneiras tão diversas e abstratas que nem sequer conseguiríamos imaginar ou conjecturar.