O vestido de baile
- Vamos ter lua cheia esta noite - anunciou Margeret Northwood para sua colega de quarto, ao abrir as cortinas e deixar o sol da manhã entrar.
Ainda enrolada nas cobertas, Williamina Camburn estremunhou e espreguiçou-se.
- O que disse? - Murmurou, ainda tonta de sono.
- Noite de lua cheia, noite de baile na Casa da Lagoa - disse Margeret, virando-se para ela e sorrindo. - Se você não desistiu de ir, naturalmente.
- Não desisti - afirmou convicta Williamina, colocando as pernas para fora da cama e sentando-se. - Aliás, esse sol na minha cara interrompeu o sonho que estava tendo... eu dançava num salão cheio de gente muito elegante, usando um vestido cor de salmão e sapatos de salto-alto prateados.
- Isso não parece nada com você - riu Margeret. - Mas, pelo bom gosto, deve ser coisa da Eunice.
- Que horas são? - Indagou Williamina, mergulhando as mãos na cabeleira desgrenhada.
- Sete e quinze; temos aula às oito e meia, melhor ir se aprontar.
- Sim... noite de baile e dia de estatística aplicada - suspirou Williamina, calçando as chinelas.
- Imagine que péssimo seria se fosse o contrário - ponderou Margeret.
* * *
Depois do almoço, Williamina voltou sozinha para a ala do dormitório feminino onde residia; pretendia tirar um cochilo e tomar um banho, antes de seguir para as aulas da tarde. Ao abrir a porta do quarto, a jovem deparou-se com duas caixas de papelão cinza pérola, uma menor e outra longa, sobre a mesinha junto a parede entre as duas camas. Ambas estavam amarradas com laços de fita de cetim cor de salmão.
Williamina olhou apreensiva ao redor, como se quem houvesse trazido as caixas ainda estivesse ali; depois, fechou a porta e aproximou-se para ver de perto do que se tratava. Sobre a caixa longa, havia um cartão onde havia sido escrito num belo cursivo "para Darganfyddiad".
- Isso é pra mim... - murmurou Williamina, sentindo o coração aos pulos.
Desfez os laços da caixa maior e dentro estava um vestido quase diáfano, cor de salmão; na menor, um par de sapatos prateados, de salto-alto. A jovem ficou sem fala: ela havia se visto usando aquele figurino, no sonho interrompido pela manhã.
Instantes depois, Margeret entrou no quarto e abriu um sorriso ao ver o vestido nas mãos da colega.
- Vai ficar bem em você - sugeriu, com uma piscadela.
- Como isso é possível? - Indagou Williamina perplexa.
- Eunice é uma Littlefield - recordou Margeret. - Espero que possa me dizer mais sobre ela amanhã, de manhã.
Williamina apenas fez um gesto de concordância e ergueu o vestido contra a luz da tarde que entrava pela janela.
- Não é muito transparente não?
- Esse não é um tecido comum; vai esconder tudo o que não deve ser mostrado - riu Margeret com gosto.
E diante da expressão de dúvida da colega, acrescentou:
- Se não acredita, experimente e se olhe no espelho.
Williamina seguiu a recomendação e logo constatou que Margeret dizia a verdade: o vestido era diáfano e esvoaçante ao redor dos membros, mas justo e opaco junto ao tronco.
- Perfeito - murmurou.
- Ainda não - corrigiu Margeret. - Você não vai às aulas da tarde; preciso te levar ao salão para fazer as unhas e arrumar esse cabelo.
- Eu tenho que ficar perfeita? - Inquiriu Williamina erguendo uma sobrancelha.
- Ou o mais perto disso que pudermos chegar neste mundo - concluiu Margeret com um sorriso.
- [21-09-2021]