ALÉM DA IMAGINAÇÃO - O DESCONHECIDO DO SHOPPING
Os olhos de Brígida brilharam quando aquele homem adentrou a sala da recepção de uma clínica onde ela aguardava para fazer um exame. Ela o conhecia muito bem, só não sabia o seu nome, ele no entanto a ignorou, talvez não a tivesse visto, pensou ela. Aguardou alguns minutos, com certeza ele a notaria, o que não aconteceu. Pensou em ir até ele, simular que iria até a toalete e passar na sua frente, tropeçar nos seus pés e pedir desculpa, porém não pôs em prática essa atitude, continuou no aguardo do seu olhar fixar-se nela. Já estava impaciente, fechou os olhos e implorou que tudo desse certo naquele momento e que esse homem percebesse a sua presença ali. Quando abriu os olhos uma surpresa, não mais estava ali aquele homem que tanto a impressionou.
Após o exame Brígida deixou a clínica completamente desolada, seu pensamento estava só nele e não entendeu o que aconteceu ali, o tempo que fechou os olhos e abriu novamente não era suficiente para ele evaporar, foi o que deduziu, foi como um passe de mágica e isso a deixou fora de si, até se esquivou de um carro quando atravessava a rua rumo ao ponto de ônibus quando retornaria para casa. Teve vontade de chorar, mas conteve as lágrimas.
Já em casa foi direto para a cama, deitou-se e dessa vez chorou. Ficou a imaginar o que teria acontecido, aquele homem podia representar muito para ela, conhecera-o num shopping uma semana antes quando sua bolsa caiu e alguns pertences seus se espalharam pelo chão, momento em que ele a ajudou a recolhê-los. Sorriu para ela e fixou bem seu olhar nela, o que a impressionou, jamais algum homem a tinha olhado dessa forma. Brígida agradeceu gentilmente, ele apenas tocou sua mão e afastou-se sob o seu olhar de espanto, já no final do corredor ele olhou para trás e acenou, desaparecendo numa curva. Ela teve vontade de ir atrás, mas não teria um motivo para isso, se conteve e sentiu seu coração palpitar e também um desejo forte de ir ao seu encontro, o que fez imediatamente. Chegando na esquina não viu ninguém com as suas características, o outro corredor era imenso e daria tempo suficiente para vê-lo, isso a decepcionou, tinha algo naquele homem que precisava desvendar, sentiu necessidade disso.
Brígida acordou quando a noite acabava de chegar, sentiu o cheiro daquele perfume quando o estranho abaixou-se para ajudá-la a recolocar na bolsa os objetos caídos, olhou a porta do seu quarto, ela se abria lentamente como se o vento a impulsionasse, em certo momento uma figura ali se materializou, era aquele homem que a impressionou e que sorria para ela. Estaria sonhando? Realmente havia acordado? Passou as mãos no rosto sem querer acreditar e quando tentou levantar-se a porta do quarto continuava fechada como a deixou. Assustada e sem nada entender chorou, caiu em prantos tal qual uma criança quando tem um pedido negado pela mãe, estava delirando com certeza. Seguiu para o banheiro e tomou uma ducha quente e relaxante, demorou-se o tempo ideal para clarear sua mente.
Alguns dias se passaram e Brígida não esquecia aquele homem desconhecido, voltava sempre ao shopping na esperança de revê-lo, o que acabava não acontecendo, imaginava enloquecer com essa situação. Já estava para ir embora quando passando em frente de uma loja viu um banner com um homem fazendo a propaganda de uma roupa masculina, olhou bem e para seu espanto aquele rosto era conhecido. Sim, era ele, era aquele desconhecido que tanto procurava, enfim encontrou a foto dele. Rapidamente entrou na loja e pediu a vendedora para levar o banner, pagaria o preço que ela pedisse. Mas o banner com o comercial não estava à venda, ela tanto insistiu que acabou convencendo a moça. Perguntou quem era mas a resposta foi negativa. Dobrou ele, prendeu com uma fita e colocou embaixo do braço, nem foi preciso embrulhar. Chegando em casa retirou a fita para apreciá-lo melhor, qual não foi o seu espanto quando viu a foto, era outra pessoa completamente diferente da que viu.
Passaram-se os dias, nenhuma esperança de tornar a ver aquela figura que tanto a machucava, que tanto feria o seu coração. Brígida tornou-se uma pessoa triste e até adoeceu, estava vivendo uma vida que não desejava para ninguém. Foi parar em um hospital com uma crise de depressão onde chegou praticamente desacordada após ingerir comprimidos por conta própria. Em um leito hospitalar foi medicada por um enfermeiro que lhe aplicou uma injeção. Seus olhos se abriram lentamente e ela vislumbrou aquele rosto jovem da pessoa que lhe atendia. Ela sorriu e conseguindo juntar forças disse:
- Enfim encontrei você, encontrei quem eu tanto procurava!
Sem entender o profissional de saúde perguntou quem ela procurava. Brígida, reunindo mais forças, agarrou o rapaz e chorou, vira naquela criatura o homem que conhecera no shopping, estava se sentindo feliz. Mas ao soltar o rapaz e olhar atentamente para ele vira que se enganara, então pediu desculpas.
Enfim fora do hospital Brígida procurou levar uma vida sem preocupações, sabia que iria "ver" novamente esse homem estranho, estava já se acostumando com isso, mas estava levando mais em consideração as recomendações médicas para evitar enloquecer. Se por acaso "encontrá-lo" novamente por aí faria de conta que nunca o tinha conhecido.