Mar Antigo

- Geoffrey?

Geoffrey Sulley desviou o olhar da velha mansão sobre a colina e voltou-se para a namorada, parada no caminho alguns passos atrás dele.

- O que foi Theresa? Desistiu? - Provocou-a.

- Não sei se é uma boa ideia vir à mansão Littlefield à noite - declarou, mãos na cintura. - Mesmo que você tenha a chave do portão.

- E só do portão - admitiu Geoffrey. - Cortesia do Flores, que cuida da piscina; a qual aliás, é a única parte da casa que teremos acesso.

Theresa deu mais alguns passos, até ficar ao lado do namorado.

- Você já esteve aqui, antes?

Geoffrey balançou a conversa.

- Sim, eu te falei; no verão passado.

- Mas isso foi durante o dia.

Geoffrey deu uma piscadela.

- Flores me disse que o irado seria vir à noite.

Theresa cruzou os braços.

- Você sabe das histórias sobre a mansão Littlefield?

Geoffrey riu.

- Lendas urbanas. Francamente? Estou ansioso para desmascarar essas histórias.

- E acha que vai fazer isso vindo nadar numa noite de neblina? - Insistiu ela.

Geoffrey apenas sorriu, enquanto enfiava a chave na fechadura do portão gradeado.

- Tudo bem, se você não quiser entrar na água...

O portão rangeu, ao girar sobre seus gonzos. No céu nublado, a lua surgiu brevemente por entre as nuvens baixas e banhou o bloco cinzento da mansão.

- Ouve isso? - Indagou Theresa.

Geoffrey ergueu a cabeça, após fechar o portão atrás de si. A neblina parecia trazer os sons de ondas quebrando mansamente contra a praia.

- Parece que há centenas de milhões de anos, toda essa região era o fundo de um mar imenso - prosseguiu Theresa.

- Bizarro - comentou Geoffrey, avançando pela lateral do prédio até os fundos, onde estava localizada a piscina. As águas reluziam como mercúrio líquido, sob a luz da lua que tremeluzia em meio à neblina.

- Você vem? - Indagou ele, começando a se despir junto à borda azulejada.

- Eu vou ficar aqui - declarou Theresa, sentando-se numa espreguiçadeira sob um guarda-sol fechado.

Geoffrey mergulhou e começou a dar braçadas rápidas, para atravessar todo o comprimento do reservatório, sob o olhar atento da namorada. Ao chegar ao meio do trajeto, virou-se e acenou. Theresa acenou de volta.

- E em noites como essa, - ela murmurou para si mesma - pode acontecer da piscina não ter fundo.

A superfície das águas reluzia mansa sob a luz do luar, que se escoava por entre as nuvens baixas, a agitação que o percorrera subitamente cessada.

Vindo de todas as direções, o som das ondas parecia mais forte agora.

- [05-08-2021]