FILOMENA
Filomena era conhecida entre os seus amigos e familiares como uma pessoa mão de vaca, muquirana, sovina; mas a verdade é que ela era avarenta mesmo. Ela não era milionária e nem nadava em dinheiro, mas também não precisava fazer aquelas economias exageradas que beiravam o absurdo. Filomena tinha a mania de comprar comidas de baixa qualidade; muitas vezes comprava alimentos vencidos ou quase apodrecidos, só para ganhar algum desconto e pagar menos. Pechinchar e pesquisar preços com a intenção de encontrar bons produtos sem gastar muito é até recomendável, mas Filomena sacrificava a própria saúde por qualquer desconto.
Outra característica dela era a sua falta de compromisso com a higiene, limpeza e conservação dos alimentos; ela não tinha critérios definidos para isso. Não tinha noção dos riscos de contaminação e intoxicação alimentar. O negócio de Filomena era um só: não gastar dinheiro. Ela ia à feira interessada na xepa; ou seja, comprava frutas, verduras e legumes que já não tinham um bom aspecto e muito menos qualidade. Sempre comprava roupas e calçados no brechó só para pagar mais barato. Ficava dois ou três dias sem tomar banho para economizar água e sendo assim economizar na conta... e por aí vai.
Uma mania que a Filomena tinha também era a de consumir carne e linguiça de porco e não abria mão de comprar o produto de um criador clandestino de porcos. Esse homem criava os suínos de maneira precária; para não dizer nojenta. Os porcos eram criados sem nenhum cuidado sanitário no interior da cidade. O esgoto corria a céu aberto e os animais tinham contato com muita sujeira. Os porcos eram abatidos no mesmo local onde eram criados, e na mesma área, faziam as linguiças e distribuíam a carne para os também negligentes consumidores.
Filomena consumia com frequência a carne e as linguiças de procedência duvidosa; ela era uma cliente fiel assumida. Com o passar dos anos, começou a apresentar confusão mental, tonturas, fortes dores de cabeça, desmaios e convulsões que se assemelhavam a um quadro de epilepsia. No início ela recusava buscar ajuda médica por não querer gastar dinheiro; porém, inevitavelmente foi parar no hospital um dia. Lá, ela recebeu um surpreendente diagnóstico; os exames apontaram para uma infestação de vermes no cérebro... mais precisamente, o parasita conhecido como Tênia do porco.
A Tênia é uma espécie de verme que se desenvolve em porcos que são criados em precárias condições sanitárias. O parasita usa o corpo humano como hospedeiro. Ao ingerir carne de porco mal cozida, quando contaminada com ovos do verme, eles eclodem por conta do fluído digestivo intestinal. As larvas podem perfurar as paredes do intestino, entrando em contato com a corrente sanguínea e chegando a diferentes partes do corpo; no caso da Filomena, no cérebro.
Os médicos receitaram parasitoides, mas Filomena não resistiu; seu caso era extremamente grave. Exames mais detalhados descobriram centenas de ovos do parasita e alguns tumores no seu cérebro. Infelizmente, Filomena pagou um preço alto demais... uma trágica ironia do destino, já que ela sempre buscou pagar o preço mais baixo possível. Com prudência, algumas situações indesejadas podem ser evitadas em nossa existência. Essa história serve para nos lembrar de que alimentação saudável, de boa qualidade e higiene levada a sério, são fatores essenciais para uma vida longa.