Amor por via rural
Que o Zeca era trabalhador, ninguém contestava. Lavrador, vaqueiro e, apaixonado pela bela Maria, justamente filha do patrão. Viviam no campo, sem tempo pra muita leitura ou mesmo lucubração.
Num domingo ensolarado, ei-los sentados sobre a porteira da cobertura do curral, num idílio em que o olhar dizia tudo, já que o bocal andava mudo. Falta de assunto. Nem rádio, nem jornal, nem mesmo missa no local.
E Maria já tava com jeito de que ia se aborrecer. O silêncio do Zeca tava de estarrecer. Ambos de olho na bela mas já tão batida paisagem da pastagem e eis que o Zeca, depois de apontar a canivete um raminho de goiabeira, cansado de cutucar a companheira, vira-se para dentro do curral e solta no ouvido de Maria, essa peça de matinal filosofia:
- Ô Maria, alá a vaca parino...
Ao que indômita e insaciável musa rebate, veemente, no ato:
- Vai tomá no cu, Zeca, cê acha qui isso é cunversa de namorado...?