A HISTÓRIA MAL CONTADA DE UM PALHAÇO TRISTE

   A alegria era constante por trás de toda aquela maquiagem e roupagem, as brincadeiras envolvidas em sorrisos nas apresentações não deixavam dúvidas de que aquele homem ali escondido era feliz e fazia os espectadores felizes, tanto crianças quanto adultos. Os momentos nas apresentações eram repetidos a cada espetáculo nos diversos locais por onde passava, angariava o palhaço olhares voltados só para ele, tudo era magia, tudo parecia ser infindável, mas quando cessavam as cenas alegres e de brincadeiras tudo voltava ao normal, era uma tristeza generalizada, ficavam só as recordações e a espera para novos momentos de folguedos. Fim do espetáculo, fim da alegria, porém a promessa da repetição.

   O dia amanheceu, acordou o palhaço depois de uma noitada de apresentação, passou a mão no rosto já livre da maquiagem e sem as vestes coloridas, o ar era de cansaço. Na tenda ao lado do circo dormira um sono um pouco conturbado, com pensamentos frutos de problemas familiares. O outro lado da sua vida era esse, o contrário do que mostrava para a garotada em pleno clima de euforia. Após um banho improvisado ao ar livre é servido o café da manhã para o grupo que compõe os espetáculos, todos ficam juntos, inclusive crianças.

Próximo espetáculo, o sorriso volta ao rosto do palhaço já com nova maquiagem e vestido com roupas coloridas. Um semblante que difere da sua realidade pessoal fora desse trabalho, um falso sorriso, uma alegria contagiante, frutos de um perfil imaginado como constante para aquele ser que ali está. O palhaço mostra a todo mundo que ele é sempre assim, alegre, brincalhão e pronto para novas apresentações. Todos concordam sem terem a mínima noção do que se passa por trás daquela figura, não imaginam que aquela felicidade é puramente passageira para que possa ganhar algum dinheiro para suas necessidades.

Mais um término de apresentação, mais um cansaço e a necessidade de dormir para descansar o corpo, tirar toda a maquiagem e trocar de roupa. Lava o rosto, na frente dele um espelho onde reflete a sua imagem. Vem aquela vontade de chorar, mas ele a controla, enxuga bem devagar aquela face sofrida, desejosa de ser alegre e longe dos problemas que o aflige, pensa na mulher em uma cidade distante, está separado dela, pensa nos filhos ainda pequenos e pela primeira vez não consegue conter as lágrimas e chora copiosamente. Os que ali se encontram, sabedores da sua situação, apenas o confortam e até lhe ajudam em alguns momentos lhe emprestando algum dinheiro para ajudar no pagamento de suas dívidas. O palhaço que ri e faz rir é também o mesmo que chora.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 05/12/2019
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